Dourados, 78 anos: ‘De potência no agronegócio a polo prestador de serviços’

Thalyta Andrade/ Dourados News

De cidade com potencial a se consolidar como a mais importante e representativa do Estado, a um lugar que hoje, vive nessa realidade. Em 13 anos de existência do Dourados News, muita coisa mudou na segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul e, segundo especialistas, a mudança foi, no geral, “para melhor”.

Em 2000, ano de fundação do portal de notícias, o município da região Sul do Estado acolhia uma população de 164.949 habitantes, segundo dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Atualmente, a população estimada é de 207.498 habitantes, e daqui a mais dez anos, conforme projeções serão mais de 300 mil pessoas vivendo no município.

Podemos destacar, para abordar o que Dourados era e o que se tornou, um tripé no perfil do município. A vocação que a coloca como uma das cidades mais importantes do país no setor do agronegócio permanece muito forte, e avançando, principalmente em tecnologia para grandes e pequenos produtores.

No entanto, vemos hoje uma cidade que busca a vocação industrial, principalmente no setor metalmecânico e sucroalcooleiro, e que tem recebido muitos investimentos.

E há ainda a UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), que puxou e continua puxando consigo uma série de investimentos e impulsionando um crescimento em vários setores por meio dos quase nove mil acadêmicos e profissionais ligados à instituição.

Não há como falar de futuro, sem falar do passado, então procuramos alguns especialistas e personagens envolvidos diretamente nesses três setores para entender o que impulsionou a evolução da cidade, e também qual a projeção para os próximos dez anos.

O economista Fábio Castilho, destaca que 2000 foi justamente o ano em que Dourados começou a avançar no crescimento da industrialização.

“Pelo menos nessa década a cidade teve o começo do crescimento da industrialização. E isso foi uma consequência em parte da agricultura, que por ser tradicionalmente forte foi diversificando em alguns setores como o da cana de açúcar, o que foi importante para o crescimento do desejo de querer se industrializar. Dourados hoje é uma cidade de porte médio e em franco crescimento por conta de investimentos do governo e também da iniciativa privada”, destacou Fábio.

Neste horizonte é importante destacar o fato de que a cidade está localizada em um raio que compreende 38 municípios da região, posição que se torna importante para o desenvolvimento local, e que foi fundamental na evolução ‘veloz’ da última década. Pólo universitário, industrial, de serviços, de saúde, de turismo de negócios, são apenas alguns dos setores que sustentam a economia douradense, que está muito mais forte que há dez anos, e em crescimento contínuo.

“Em dez anos, Dourados cresceu 2,2% ao ano com relação somente à população, e isso é representativo. Em um raio de 150 quilômetros no entorno da cidade, temos mais de um milhão de pessoas. Se o Estado tem mais de 2,5 milhões, pelo menos metade está presente aqui nessa região, então Dourados é forte e continua tendo um crescimento acentuado. Eu, por exemplo, estou aqui há nove anos e percebo mudanças bastante consideráveis com relação a tudo” apontou o economista.

As mudanças, ainda de acordo com Castilho, são consequência direta da migração de pessoas que vem de outros municípios e também Estados, impulsionadas pela universidade federal, principalmente.

“Com isso você tem uma parte da população bastante representativa que tem outras referências e, naturalmente, são mais exigentes em vários aspectos, como em qualidade em habitação, alimentação, lazer, entre outros. Então há um estímulo natural para que a cidade cresça nesse sentido, porque tem demanda, tem apelo forte. Anteriormente, quem tinha perfil mais exigente, e eu não me refiro apenas a pessoas que vêm de fora da cidade, mas os próprios douradenses buscavam opções em Campo Grande, em outros Estados. Hoje não é mais assim, a cidade cresceu e beneficiou não apenas quem tem dinheiro. Shopping, há anos atrás, só comprava quem tinha dinheiro, e hoje não, é um segmento que favorece várias classes sociais. Quem movimenta a economia de Dourados são as classes C e D. Claro que as classes A e B são representativas, mas elas consomem outro perfil”.

 

INVESTIMENTOS

A secretária municipal de Desenvolvimento Econômico Sustentável, Neire Colman, ressalta justamente este ponto na mudança de Dourados nos últimos dez anos: o crescimento econômico e as consequências disso no mercado tanto para empresários, quanto para a população, em um ciclo que está interligado.

“O nosso empresário local hoje tem uma concorrência maior, então ele não compete só com as indústrias de outras regiões do país, e sim com indústrias da China, de outros países. Então temos um cenário que o obriga a se qualificar, se preparar, para ser competitivo, senão ele morre. E isso é uma realidade de todos os setores, tanto para os grandes empresários, quanto para o microempresário”.

Atualmente, segundo dados informados pela secretária, setores como o da indústria de alimentos, móveis, metalmecânico, construção civil, e confecção, representam os cinco maiores carros chefe do município em um grupo de 1.200 empresas. Ainda há de se ressaltar, a importância do agronegócio para o município, junto das indústrias e do comércio, que aliás, foi um dos setores que se desenvolveu consideravelmente nos últimos anos, muito impulsionado – como apontou o economista Fábio Castilho – pela implantação da UFGD, e seu consequente atrativo pela migração de pessoas que se instalaram na cidade.

Os microempreendedores representam 98% do cenário econômico do município. “Por isso um dos nossos focos prioritários é a questão da qualificação de mão de obra. O nosso empresário se preparando melhor, pode ter uma produção otimizada, um custo menor, e concorrer no mercado com empresas que vem de fora. E o pequeno empresário pode ter, por meio da qualificação, a oportunidade de crescer e lucrar, porque esse é o objetivo dele e também o nosso, que é justamente estimular isso a longo prazo”, apontou Neire.

Além da qualificação, existem ainda, de acordo com a secretária, outros desafios prioritários no que diz respeito ao crescimento do município. Entre eles está otimizar os processos de liberação de alvarás, habite-se, licenças, para atender à demanda de empresas que já existes e as que querem se instalar na cidade.

“Esse é um problema que nós buscamos solucionar junto ao empresário, porque na ilegalidade todos perdem. Para cada empresa formal que existe em Dourados, há mais duas informais. E a economia do município é prejudicada, o negócio do empresário. Então hoje buscamos formas de melhor isso pensando em um futuro com ainda mais empresas”.

E o futuro, de acordo com a secretária, é promissor. Atualmente, existem empresas que cresceram mais de 1000% em apenas doze meses, o que reflete o ‘salto’ econômico dos últimos dez anos. De acordo com Neire, um estudo detalhado de projeção econômica do município deve ser encaminhado em breve, para estimar como será Dourados daqui a 20 anos, e possibilitar que novas empresas e indústrias sejam atraídas para a cidade.

“Queremos saber para onde a cidade está caminhando, e direcionar o nosso empresário, as indústrias, os investimentos que podem vir. Serão apontados os setores mais emergentes, as tendências, e desta forma seremos capazes de ver os caminhos. Alguns segmentos de tendência que já podemos apontar é o setor de beleza, que é aquecido e vai crescer ainda mais, assim como o setor de entretenimento, e o setor de móveis. Na parte de entretenimento principalmente, e de imóveis, muito disso é impulsionado pela presença de estudantes universitários que vem de todos os cantos do país, e a construção de empreendimentos imobiliários que são cada vez mais presentes”.

Neire ainda aponta o potencial para turismo de negócios, que colocou o município, conforme pesquisa deste ano da Fundação Estadual de Turismo, como a melhor cidade na categoria ‘colher’, junto de Bonito.

“Ainda que não tenhamos potencial ecológico, temos infraestrutura muito qualificada para esse setor. Queremos Dourados como centro para receber turismo de negócios e eventos no Estado. Esse é um potencial que queremos desenvolver ainda mais na cidade. Hoje temos a Canasul e a Feira Agrometal, a Expoagro, a Feira do Empreendedor, entre outros. E este é um setor que estimula empresas locais. Nesses períodos, o aumento é de 100% na taxa de ocupação de hotéis, e aumento de 70% no faturamento do comércio, e isso me restringindo a apenas dois exemplos”, finalizou a secretária municipal.

Este também é o ponto de vista do economista Fábio Castilho, que estima uma cidade mais estruturada em vários sentidos que acabarão beneficiando a continuidade do processo de crescimento.

“Daqui a dez anos creio que iremos atingir até 400 mil habitantes, com indústria e agricultura cada vez mais fortes, e com evolução em serviços e turismo de negócios, com uma logística melhor de receber pessoas por meio do aeroporto, rodoviária, e eventos maiores. Existe ainda uma expectativa positiva para o douradense que deve ter melhor qualidade de vida, desde que os órgãos públicos invistam corretamente na infraestrutura, acompanhando o crescimento da população, que é uma realidade”.


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