Dourados: Índios querem Força Nacional fora
Eles criticam a violência em alta escala. Por outro lado, Força Nacional denuncia liberação de bebidas
Do Jornal O Progresso
Indígenas das aldeias Bororó e Jaguapiru estão pedindo a saída da Força Nacional da Reserva de Dourados. Eles denunciam a falta de policiamento e a violência em alta escala que estaria tomando conta da Reserva. Somente este ano foram seis homicídios na Reserva, quatro destes nos primeiros dias deste mês. A Força Nacional se defende dizendo que o trabalho de fiscalização está sendo realizado e que 90% dos crimes ocorridos na aldeia têm ligação com o consumo do álcool, cuja “a venda foi liberada por lideranças indígenas”.
O cacique Renato de Souza procurou a reportagem, em nome da comunidade indígena, para dizer que muitos estão amedrontados por causa da onda de violência. “A operação policial que está sendo feita na reserva não está coibindo a criminalidade, pelo contrário, ela só está aumentando. Precisamos de um policiamento eficaz que barre as drogas e bebidas que vem gerando mortes”, destaca.
Segundo o cacique, a comunidade se sente desprotegida. “Eu cansei de ligar para o telefone da Força Nacional quando estava acontecendo barbaridades na Reserva, mas depois das 22h eles nunca atendem. Muitos são ameaçados, chamam a polícia e ela nunca vem. Além de só gastarem combustível com as rondas eles fingem que não vêem os crimes dentro da Reseva”, destaca.
Ontem foi o velório do indígena Josivaldo Rodrigues Brites, de 19 anos. Ele foi encontrado morto a paulada e facadas, na Aldeia Bororó. Foi atingido várias vezes na cabeça, pescoço, queixo e peito, além de um golpe que rachou o crânio. O corpo estava na região da Escola Araporã. Uma das tias da vítima, que pediu para não ter o nome divulgado, disse que a Reserva não tem segurança alguma.
“À noite muitos jovens andam com facão em punho e amarram camisetas nos rostos para dificultar a identificação. Estes grupos, chegam, batem, e ameaçam. Ninguém faz nada! Alguns utilizam arame de cerca para derrubar motos e para espantar quem passa. Estamos revoltados porque aqui a criminalidade prevalece”, desabafa.
A comunidade indígena está cobrando a implantação da Polícia Comunitária, uma promessa que ainda não saiu do papel, segundo o cacique Renato. “É preciso uma polícia permanente na aldeia, que possa prender os bandidos e não ficar fingindo que eles não existem. Enquanto não se faz nada, as drogas e bebidas tomam conta da Reserva”, desabafa.
FUNAI
Procurado pelo O PROGRESSO, o chefe de divisão técnica da Fundação Nacional do Índio (Funai), Vander Aparecido Nishijima, diz que a implantação da Polícia Comunitária será implantada na Reserva ainda este ano. Até lá vai permanecer a Força Nacional, que está em operação.
Vander disse que diferente dos policiais comuns, os da Polícia Comunitária serão preparados para atender as demandas da comunidade, tendo preparação antropológicas e condizente com a realidade dos indígenas. Vander explica que o convênio está sendo feito pelo Ministério da Justiça e governo do Estado.
SOMENTE ESTE MÊS, A COMUNIDADE REGISTROU 4 HOMICÍDIOSFORÇA NACIONAL
Procurado pela reportagem, o Capitão da Força Nacional Edson Ribeiro assegura que todos os trabalhos de abordagem, fiscalização, vistorias e apreensões estão sendo realizados 24h por dia.
O capitão informou que os crimes praticados na reserva estão diretamente ligados ao alto consumo de álcool, que está tomando conta da Reserva. Segundo o capitão Edson, da Força Nacional, esta foi uma decisão das próprias lideranças em querer liberar a bebida até às 22h. O capitão alega ainda que existem muitos lugares onde o acesso é difícil na reserva devido a iluminação. “Em alguns casos, os policiais chegam e os indígenas estão totalmente embriagados, armados com facão e totalmente fora de si. A bebida é, sim, um dos principais vilões da comunidade e sua venda é liberada pelas próprias lideranças”, acrescenta.
O capitão diz que todas as acusações de alguns índios em relação à Força Nacional não tem fundamento. “Hoje a equipe atua com 17 policiais, que trabalham numa escala de 12h por 24h. Mesmo assim, em momentos em que se exige maior contingente, os agentes fora do plantão são convocados. Além de Dourados, também fiscalizamos a aldeia Guiviri, em Aral Moreira. Fazemos tudo o que podemos para levar maior segurança a estas comunidades. Infelizmente não podemos estar 24h em todos os lugares de todas as aldeias, que são extensas, mas asseguro que não estamos medindo esforços para cumprir com o nosso dever”, garante o capitão.
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