É morrendo que se vive!

No dia 5 de março, aos 58 anos de idade, faleceu Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Quem esteve ao seu lado nos momentos finais de sua vida foi o general José Ornella. Alguns dias mais tarde, o militar contou que, em dado momento, o moribundo, entre lágrimas, suplicou às pessoas que cercavam o seu leito: «Por favor, fiquem comigo, não me deixem morrer!».

No dia seguinte, foi encontrado morto em seu apartamento de São Paulo, o vocalista da banda Charlie Brown Jr., Alexandre Magno Abrão, de 42 anos, conhecido como “Chorão”. Graziela Gonçalves, sua ex-mulher, disse que se separou dele porque não conseguia mais suportar os conflitos que a droga o levava a causar – e que lhe trouxe a morte: «Na verdade, eu estava tentando trazer ele de volta. Acho que toda esposa sabe que, às vezes, uma separação nada mais é do que uma artimanha de que ela se utiliza. Tentei tudo o que se pode imaginar. Mas, infelizmente, eu perdi. Esta praga mundial que é a droga acaba com tudo!».

No final de agosto, numa pequena cidade da Albânia, um idoso de 70 anos quis dar uma lição aos familiares que o haviam esquecido: no dia de seu aniversário, publicou uma nota de falecimento num jornal local, anunciando a sua morte e convidando o povo a participar de seu sepultamento. A quem lhe perguntou as razões de gesto tão estranho, respondeu: «Faz quatro anos que voltei do Canadá, e meus filhos, irmãos e demais parentes ainda não se decidiram a tomar um café em minha casa. Quando eu residia no exterior, ajudei a todos, enviando-lhes algum dinheiro. Sempre alimentei o desejo de voltar para viver com meus entes queridos. Mas, agora que não tenho mais dinheiro, ninguém se importa comigo!». E concluiu: «As pessoas devem ser respeitadas quando vivas, não depois de mortas!».

Três situações diferentes, mas todas convergem para a sabedoria que só a fé é capaz de oferecer, assim sintetizada por São Paulo: «Não se iludam: com a vida não se brinca; o que o homem semeia é o que também colherá. Quem semeia nos instintos, dos instintos colhe a morte; quem semeia no Espírito, do Espírito colhe a vida. Portanto, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos!» (Gl 6,7-8.10).

As lágrimas do presidente Chávez falam por si mesmas: ninguém se sente à vontade diante da morte. A história do rei Ezequias é sintomática: «Ezequias adoeceu gravemente. O profeta Isaías foi visitá-lo e lhe disse: “Ponha em ordem a sua casa, porque desta você não escapa: vai morrer!”. Então Ezequias virou o rosto para a parede e começou a chorar convulsivamente, dizendo: “Bem no meio de minha vida, eu me vou. Nunca mais verei a ninguém entre os habitantes da terra!”» (Is 38,1-3; 10-11).

Por sua vez, com Chorão parece ter acontecido o que há séculos previa o salmista: «Este é o destino dos que confiam em si mesmos e se satisfazem com sua sorte: são um rebanho que caminha para o cemitério. A morte é o pastor que os apascenta e os empurra para o abismo» (Sl 48, 14-15). Quantas lágrimas se vertem no mundo por vidas anestesiadas pela ilusão do sucesso, do dinheiro e dos prazeres! Como qualquer outra droga, tais ardis exigem doses cada dia mais fortes na tentativa de preencher um vazio que nada e ninguém consegue saciar senão Deus. Talvez seja por isso que o suicídio é mais acentuado entre os ricos do que entre os pobres...

Quanto ao velhinho da Albânia, as suas queixas refletem uma verdade fácil de verificar. A grande maioria das pessoas se preocupa muito mais em somar e multiplicar do que em dividir e partilhar. Esquecem que, na hora da morte, as riquezas que acumulamos egoisticamente, testemunham contra nós diante de Deus e, não poucas vezes, acabam por gerar rixas entre os herdeiros. Melhor seria acolher o conselho de Jesus: «Fazei-vos amigos com o dinheiro sujo! Assim, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas» (Lc 16,9). Esta é a verdadeira, a grande, a única esperteza!

Quando isso acontece, a morte passa a ter outro sentido, como descobriu Santa Teresa do Menino Jesus: «Não morro, entro na vida. Quem virá me buscar não é a morte, mas Deus. O que ele me reserva no paraíso ultrapassa de tal modo tudo o que se pode imaginar, que sou forçada, por momentos, a deter meus pensamentos para não sofrer vertigens!».

Dom Redovino Rizzardo, cs

Bispo de Dourados

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