Entrevista: Saúde vocal traz ganhos à educação e aos cofres públicos
por Maria Lucia Tolouei do Jornal O Progresso
A aprovação do projeto de Saúde Vocal abre portas à prevenção e acarreta economia aos cofres públicos. Segundo o fonoaudiólogo Ademir Garcia, autor do programa e que vem se empenhando há anos para que este seja adotado pela rede pública, "haverá um ganho social, pessoal e profissional do professor, além de diminuir os casos de Distúrbios Vocais que em muitas vezes obrigam os professores a solicitarem afastamentos, licenças e muitas vezes readaptação de função por problemas vocais".
Baena é fonoaudiólogo formado pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Curitiba), especialista em Voz com estágio em voz pela Universidade Estadual do Arizona, Tempe (EUA), Centro de Voz da Universidade de Medicina de Pittsburgh (EUA), Universidade British Columbia – Vancouver (Canadá) e Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Santa Maria, da Faculdade de Medicina de Lisboa (Portugal). Confira a entrevista O que muda com a aprovação do projeto de saúde vocal, na Câmara?
Com a aprovação deste projeto, evidentemente esperando que seja sancionado pelo nosso prefeito Murilo que já demonstrou uma grande preocupação com a saúde vocal do professor, quando deputado estadual aprovou um projeto idêntico em 2010, muda a forma de fazer saúde vocal de maneira mais inteligente, que é a prevenção, a atuação fonoaudiológica com profissionais da voz, neste caso, especificamente os educadores, deve possibilitar a promoção da Saúde Vocal, esse projeto vem de encontro à esta expectativa.
Qual o impacto disto sobre o trabalho dos que usam a voz como instrumento de trabalho?
O grande impacto e positivo é sem dúvida a informação, sem contar com o grande ganho social, pessoal e profissional do professor, proporcionando economias ao estado e ao município, além de trazer capacitação e maior dignidade de vida aos professores. Além de diminuir os casos de Distúrbios Vocais (DISFONIAS), que em muitas vezes obrigam os professores a solicitarem afastamentos, licenças e muitas vezes readaptação de função por problemas vocais.
Qual será a sistemática deste projeto e que público vai privilegiar?
Serão oferecidos cursos teóricos/práticos e a distribuição de uma Cartilha de Informações Básicas sobre o uso correto da Voz, privilegiando à todos os professores da rede municipal de ensino. Nada impede que outros profissionais da rede publica que tenha a voz como instrumento de trabalho participe.
Qual será o papel destas comunidades (escolas) na condução do projeto? Estudantes também participam?
As escolas através da presença dos professores nestes cursos devem ter uma atuação exemplar, participando, buscando conhecimento, capacitação, além de divulgar o conhecimento adquirido sobre saúde vocal e também poderem orientar aos pais, se por ventura perceberem, que seus alunos apresentam problemas não só de fala, gagueira, ou outros problemas, mas também de voz. Através de palavras breve sobre os cuidados com a voz, é claro que os estudantes poderiam ser assistidos por esse projeto, o objetivo principal do projeto é divulgar a voz, sua importância em nossas vidas pessoais, sociais, psicológica e profissionais, nada impede que os estudantes sejam inseridos nesse processo e seria muito importante que isto realmente aconteça.
Entre os principais problemas de voz, quais poderiam ser prevenidos e de que forma? O que o senhor espera?
Os distúrbios vocais, as chamadas DISFONIAS, podem ser prevenidas através de programas da saúde vocal, que, aliás, já existe aqui em nossa cidade de Dourados desde 1995, que agora foi transformado em um projeto, levando conhecimento sobre os cuidados da voz, inclusive sobre Câncer de Laringe, que é a doença mais grave, que se diagnosticado precocemente há grande chances de cura. Espero que esse projeto de saúde vocal, não fique apenas na aprovação, que seja colocado em prática, pois desta forma estaremos prevenindo as muitas doenças da voz e salvando vidas, esse é o grande objetivo.
E sobre a importância da voz na comunicação?
A voz, além de ser um meio essencial de comunicação, é um Instrumento de Trabalho que dela dependem cerca de 70% da população economicamente ativa no Brasil. O uso da palavra falada, a voz, não é privilégio dos religiosos, dos políticos, advogados, ou seja, de classes profissionais especificas. Todos precisam falar bem para enfrentar diferentes situações no trabalho ou nos mais diversos acontecimentos do cotidiano. A voz é acima de tudo, a substancia sonora necessária à realização da fala, é uma das extensões mais fortes da nossa personalidade, um meio essencial de alcançar o outro, a voz revela a saúde, a cultura, a região, o grau de segurança, ela simplesmente nos revela, portanto a VOZ tem uma importância fundamental em nossa vida, merecendo uma atenção especial.
Problemas na voz podem evoluir para quadros mais graves? Quais são e como detectar?
A alteração vocal (disfonias) é na realidade, apenas um sintoma presente em vários e diferentes distúrbios, ora se apresentando como sintoma secundário, ora como principal. Muitas vezes é o sintoma mais importante de uma doença, sendo por isso encarado como a própria doença, como ocorre nas disfonias funcionais, que são por excelência o campo de domínio do fonoaudiólogo, onde se tem mais condição de atuação e reabilitação do paciente, dependendo quase que exclusivamente do trabalho vocal realizado, outras vezes, trata-se de um sintoma discreto inserido num quadro muito maior, como, por exemplo, na doença de Parkinson, ou ainda no câncer de laringe.
Quais os vilões do voz?
Os principais vilões da voz, são os abusos vocais como: falar alto, falar em demasia, principalmente em ambientes barulhentos, gritar, pigarrear constantemente, competição vocal, ingerir líquidos muitos quente ou muito gelados, o tabagismo, bebida alcoólica, entre outros, também considero a falta de conhecimento sobre o uso adequado da voz como um grande vilão, é necessário conhecermos nosso principal meio de comunicação e instrumento de trabalho, que é a VOZ.
Considerações finais
A importância da voz e da comunicação humana é inquestionável. É visível nos dias atuais um aumento progressivo dos profissionais que dependem da voz como instrumento de trabalho, especialmente os professores.
As alterações vocais ocasionadas principalmente pelas questões relacionadas à organização do trabalho têm levado diversas categorias, especialmente os educadores a situações de afastamento e incapacidade para o desempenho de suas funções, o que implica custos financeiros, profissionais, pessoais e sociais.
Por outro lado, as ações de vigilância e a elaboração de normas técnicas que adequem o conhecimento científico acumulado às novas condições e demandas de trabalho são praticamente inexistentes e fazem-se necessárias, urgentemente, uma vez que um número crescente de trabalhadores ingressa em categorias profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho. É fundamental que haja maior envolvimento das instituições, como universidades, órgãos competentes do estado e municípios, para que mudanças mais robustas ocorram assim como políticas mais efetivas, sempre visando o bem comum de uma comunidade. A aprovação deste projeto e sua imediata aplicação, com certeza será de grande valia e vem de encontro à essa expectativa.
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