Geração Y: A nova mudança da sociedade
"Estamos vivendo um tempo em que cinco gerações convivem simultaneamente, e, certamente, há conflitos nisso"
Da Canção Nova
Entrevista com Sidnei Oliveira
A nossa sociedade está sendo marcada pelo advento de uma nova geração, isto implica comportamentos que afetam a cultura, o mercado de trabalho e até a religião. Esta nova geração está sendo chamada de Geração Y. Mas afinal, como ela se comporta? Quem são seus protagonistas? Para falar deste assunto, entrevistamos Sidnei Oliveira1, consultor, autor e palestrante, expert em conflitos de gerações, geração Y e desenvolvimento de novos talentos e redes sociais.
No áudio abaixo, você confere, na ítegra, esta entrevista
cancaonova.com: O que define uma geração?
Sidnei: Os sociólogos, de um modo geral, fazem um estudo para definir uma geração quando a pessoa completa 20 anos de idade, mas é obvio que esses 20 anos não significam uma data de vencimento que acontece com a pessoa. Na sociedade moderna, essa idade é quando alguém começa a assumir a sua vida adulta; por isso virou um conceito e, a cada duas décadas, nós começamos a “carimbar” uma geração. Então, este conceito é [focado] muito mais em cima de estudos sociais. Embora a data de nascimento não seja o melhor modelo para definir uma geração, ela serve para efeitos didáticos; mas não significa que a pessoa é ou deixa de ser de uma geração por ter nascido num mês ou num ano diferente. Imagine, por exemplo, nós classificarmos que um jovem é da Geração Y, porque nasceu a partir dos anos 80. Isso quer dizer que aquele que nasceu em dezembro de 79 não é da geração Y? Na realidade, a geração é composta por uma combinação de datas para efeitos didáticos, mas muito mais por um contexto de comportamento social.
Lembrando as gerações: década de 40 e 50 era o “pós-guerra”, o mundo estava sendo reconstruído. Década de 60 e 70, o período de revoluções, de mudanças culturais profundas. Década de 80 e 90, mudança com a tecnologia chegando no dia a dia das pessoas. Então, isto define uma geração, ou seja, o contexto social.
cancaonova.com: Quais as características desta nova geração que chamamos de Y?
Sidnei: O pessoal da Geração Y é conhecido por pessoas que nasceram nas décadas de 80 e 90 em um ambiente profundamente marcado pela tecnologia. A primeira característica que os diferencia é que eles têm uma habilidade com as novas tecnologias; o que não acontece com as gerações passadas. Outra coisa que vem junto com isso é o conceito do multitarefa, ou seja, é a geração que nasceu fazendo duas ou três coisas ao mesmo tempo. Hoje, eles estão mais preparados do que os antigos nesta questão do multitarefa, porque os tempos de hoje exigem isso. Há também a característica de conexão, de facilidade de comunicação. O restante que atribuem a esta geração são características próprias de jovens, independente da geração, como ansiedade, falta de foco, vontade de fazer tudo ao mesmo tempo, uma vida com um pouco mais de flexibilidade - para não dizer que parece que está levando tudo na brincadeira -, uma coisa um pouco mais descontraída. Essas são características de jovens de qualquer geração.
Uma pessoa com um pouco mais de idade, que esteja nos acompanhando nesta entrevista, se voltar na sua juventude vai perceber que também era um pouco mais ansioso, era considerado sem foco. Há algumas características que são próprias da geração Y como a facilidade com tecnologia, o multitarefas e habilidade de conexões, o resto é coisa normal de jovem e jovem é assim em qualquer geração.
cancaonova.com: Quais os conflitos desta geração com as outras?
Sidnei: Nós estamos vivendo um tempo diferente, em que há cinco gerações convivendo simultaneamente, e isto não era muito comum no passado. Antigamente, você tinha o avô, o pai e o filho que eram o modelo normal, mas com a expectativa de vida aumentada, nós temos muito mais gente convivendo e muito mais referencial. Então, há um conflito para os jovens que não enfrentam mais uma geração de veteranos, mas duas ou três gerações de veteranos em um momento ao qual ela está apresentando a forma dela agir. Estes conflitos se manifestam por comportamentos, como o fato de serem condenados pelas gerações passadas, porque fazem tudo ao mesmo tempo e são rotulados de superficiais, de não se aprofundar nas coisas.
O pai pode chegar no quarto e se deparar com a filha ouvindo música, com o computador e a televisão ligados, um livro na mão e ela diz que está estudando. A atitude dos pais é pedir para ela desligar a TV e o computador, tirar o Ipod do ouvido e dizerem: “vai estudar direito!”. Tudo porque o conceito de estudo dos pais é sentar-se à mesa da sala, abrir o livro e fazer a tarefa. Já as crianças de hoje podem estar fazendo um trabalho com as amiguinhas no MSN, pesquisando no Orkut e no Google, e na televisão deve estar passando algum documentário sobre o assunto do estudo. Em seu Ipod está tocando, no mínimo, a música de fundo do trabalho, e ela está digitando, no celular, algum aspecto do trabalho. Este jovem está fazendo o trabalho, mas num aspecto diferente do que os mais veteranos conheceram no passado. Isto é um conflito, porque o jovem não vai conseguir convencer o mais antigo de que aquilo ali é um trabalho, e o veterano não vai entender, mesmo porque a referência de estudo dele é outra. Eu estou dando um exemplo de conflito dentro de casa, mas você pode estender este mesmo conflito para o trabalho, para a escola e outros ambientes. Nós temos de entender que o mundo está diferente, só que esta construção está mais complexa.
cancaonova.com: Nota-se que esta geração é mais comprometida com causas e com o mundo externo. Mas ela sabe lidar com o seu lado humano e com os conflitos interiores?
Sidnei: Esta geração é movida por causas, porque se preocupa mais consigo mesma. Ela adere às causas sociais, por exemplo, porque está preocupada com o mundo em que ela vai viver no futuro. Agora, na questão do autoconhecimento, ela tem falhas sim, porque são, desde cedo, estimuladas a serem vencedoras, sempre ganhar, sempre ter sucesso, sempre tirar notas altas, ou seja, é a geração do videogame. Nos jogos, você nunca perde; na pior das hipóteses, pode jogá-lo e pegar outro. Não há modelo de perda e isto causa uma situação estranha para esta geração, porque como ela não lida muito com perdas, começa a adiar um outro processo que é o de escolha. Eu sempre digo que na escolha você ganha algo e perde algo. Como a Geração Y não gosta muito de perder, ela não faz escolhas. Adiar a escolha já é uma escolha, mas esta geração o faz sem perceber isto, e, normalmente, o que é afetado depois disto é o próprio indivíduo, ou seja, o jovem se sente vazio, ela se sente perdido, sem foco, normalmente exige muito de si próprio, e acaba criando quase que uma doença – desnecessária – de tanta ansiedade.
Uma das coisas que eu faço no meu consultório é justamente levar o jovem a se autoconhecer, ou seja, fazer com que ele descubra os seus pontos fortes e seus pontos fracos. O jovem ele começa e se surpreender quando ele descobre que aquilo que ele tem e que é um ponto fraco nele pode ser desenvolvido, e aí ele começa a se entusiasmar. Então um dos caminhos que eu tenho proposto para os jovens é incentivá-los a buscar este autoconhecimento, usar ferramentas para isto, tentando se conhecer através de pessoas e de bons referenciais de líderes, ou seja, tentar eleger mentores para a sua vida que deem feedback verdadeiros pra ele e não apenas aquelas pessoas que ficam passando a mão na cabeça deles dizendo “você é legal”, “você é joia”. Estes jovens precisam de pessoas que dizem aonde eles não são tão “joias” assim mas que, por outro lado, apontem o caminho pra ele.
- Sidnei Oliveira também é Formado em Marketing e Administração de Empresas, autor de vários livros sobre Liderança e Administração.
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