Herói da Taça de Prata de 70 garante: 'Flu será tri se ganhar no domingo'

Autor de todos os gols do clube em quadrangular decisivo, Mickey defende que conquista seja equiparada a um título brasileiro

Do globoesporte.com

Em bancas de jornais do Rio de Janeiro podem ser encontradas faixas antecipando o título brasileiro do Fluminense em 2010. Nelas, chama a atenção a inscrição "tricampeão brasileiro". Errado? Para a CBF, o Tricolor carioca, vencedor em 1984, pode conquistar o seu segundo título do Campeonato Nacional neste domingo. Mas a faixa está correta para quem participou da competição que gera a divergência. O Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 70, também chamado de Taça de Prata, vencido pelo Flu no ano em que o Brasil foi campeão mundial no México. Para um dos responsáveis por aquela conquista tricolor, não há dúvida de que o torcedor do Fluminense poderá se considerar tricampeão nacional se o time de Conca e Muricy Ramalho bater o Guarani no Engenhão.

  • Não entendi até hoje o não reconhecimento do título de 70. É correto o torcedor tricolor chamar o clube de tri se ganhar no domingo.

Quem faz a afirmação é o ex-jogador Adalberto Kretzer, 62 anos, conhecido no futebol por um apelido da juventude relacionado ao cabelo curto caído na testa e às orelhas grandes: Mickey. Então com 22 anos, o atacante foi o herói do Flu em 70, marcando gols nos quatro últimos jogos da equipe na competição.

Mickey com a camisa do Fluminense de 70 e a faixa de campeão da Taça de Prata (Foto: Arquivo Pessoal) Mickey com a camisa do Fluminense de 70 e a faixa de campeão da Taça de Prata (Foto: Arquivo Pessoal)

Mickey guarda até hoje em sua casa, em Balneário Camboriú (Santa Catarina), recortes de jornais e revistas que destacam o Flu como campeão do Brasil daquele ano.

  • Na época, toda a imprensa classificou o Fluminense como campeão brasileiro. Todos os jogadores, dirigentes, torcedores se consideraram assim. Em 71, quando o Atlético-MG foi campeão brasileiro (reconhecido pelo CBF), eram basicamente os mesmos times, os mesmos jogadores do ano anterior. Acho que a CBF deveria examinar este caso com mais carinho. Na época, o Brasil era campeão mundial, o melhor do mundo, e todos os jogadores da seleção brasileira atuavam no país - diz.
Capa de O Globo em 21/12/70 com foto de Mickey
e a manchete 'Fluminense, campeão do Brasil'
Capa de O Globo em 21/12/70 com foto de Mickey
e a manchete 'Fluminense, campeão do Brasil'

Reserva de Flávio, artilheiro dos Cariocas de 69 e 70, Mickey entrou no time no último jogo do Flu na fase de classificação, contra o Atlético-PR, após o titular se contundir. E em Curitiba, fez o gol do empate (1 a 1) que assegurou a classificação da equipe para o quadrangular final.

E voltou a balançar a rede nos três jogos finais, marcando todos os gols da equipe nas vitórias sobre o Palmeiras e o Cruzeiro (ambas por 1 a 0) e no empate diante do Atlético-MG (1 a 1), que assegurou a conquista.

  • Não esperava fazer gols em todos os jogos da fase decisiva. É algo muito difícil de acontecer. Ainda era muito jovem, estava engatinhando no futebol. Acho que foi obra de alguém lá de cima - diz.

Mickey cita especialmente o gol de cabeça que assegurou o título, na partida contra o Atlético-MG, em 20 de dezembro. Não apenas pelo seu caráter decisivo.

  • No jogo anterior, na quarta-feira, contra o Cruzeiro, levei um pancada feia do Brito (titular da seleção campeã em 70) e fiquei com o joelho muito inchado. E no domingo entrei no sacrifício contra o Atlético-MG. Joguei os 90 minutos. Assumi a responsabilidade diante de mais de 120 mil torcedores. E marquei o gol do título. Foi o momento mais importante da minha carreira - garante.
O troféu conquistado pelo Fluminense em 70
(Foto: Diego Rodrigues / GLOBOESPORTE.COM) O troféu conquistado pelo Fluminense em 70
(Foto: Diego Rodrigues / GLOBOESPORTE.COM)

O ex-jogador lembra que o Fluminense corria por fora na disputa do título. Apesar de ter dois campeões mundiais em 70 no elenco - o goleiro Félix e o lateral-esquerdo Marco Antônio.

  • Os favoritos eram o Palmeiras, que contava com a sua 'Academia', com Ademir da Guia, Dudu, César, Baldocchi, Leão, e o Cruzeiro, que tinha Tostão, Dirceu Lopes, Zé Carlos, Piazza, Natal.

Mas a confiança sempre esteve presente nos jogadores do Tricolor carioca. A marca registrada de Mickey ao comemorar seus gols era fazer o "V" da vitória. Gesto que passou a ser repetido pelos companheiros de time. E que o ex-jogador espera que os tricolores possam fazer também neste domingo após o apito final no Engenhão. Quarenta anos depois.

  • O Flu merece ser campeão no domingo. Acredito no título - afirma o herói tricolor de 70.