São João Evangelista

27 Dezembro 2013

O nome deste evangelista significa: “Deus é misericordioso”: uma profecia que foi se cumprindo na vida do mais jovem dos apóstolos. Filho de Zebedeu e de Salomé, irmão de Tiago Maior, ele também era pescador, como Pedro e André; nasceu em Betsaida e ocupou um lugar de primeiro plano entre os apóstolos.

Jesus teve tal predileção por João que este assinalava-se como “o discípulo que Jesus amava”. O apóstolo São João foi quem, na Santa Ceia, reclinou a cabeça sobre o peito do Mestre e, foi também a João, que se encontrava ao pé da Cruz ao lado da Virgem Santíssima, que Jesus disse: “Filho, eis aí a tua mãe” e, olhando para Maria disse: “Mulher, eis aí o teu filho”. (Jo 19,26s).

Quando Jesus se transfigurou, foi João, juntamente com Pedro e Tiago, que estava lá. João é sempre o homem da elevação espiritual, mas não era fantasioso e delicado, tanto que Jesus chamou a ele e a seu irmão Tiago de Boanerges, que significa “filho do trovão”.

João esteve desterrado em Patmos, por ter dado testemunho de Jesus. Deve ter isto acontecido durante a perseguição de Domiciano (81-96 dC). O sucessor deste, o benigno e já quase ancião Nerva (96-98), concedeu anistia geral; em virtude dela pôde João voltar a Éfeso (centro de sua atividade apostólica durante muito tempo, conhecida atualmente como Turquia). Lá o coloca a tradição cristã da primeiríssima hora, cujo valor histórico é irrecusável.

O Apocalipse e as três cartas de João testemunham igualmente que o autor vivia na Ásia e lá gozava de extraordinária autoridade. E não era para menos. Em nenhuma outra parte do mundo, nem sequer em Roma, havia já apóstolos que sobrevivessem. E é de imaginar a veneração que tinham os cristãos dos fins do século I por aquele ancião, que tinha ouvido falar o Senhor Jesus, e O tinha visto com os próprios olhos, e Lhe tinha tocado com as próprias mãos, e O tinha contemplado na sua vida terrena e depois de ressuscitado, e presenciara a sua Ascensão aos céus. Por isso, o valor dos seus ensinamentos e o peso de das suas afirmações não podiam deixar de ser excepcionais e mesmo únicos.

Dele dependem (na sua doutrina, na sua espiritualidade e na suave unção cristocêntrica dos escritos) os Santos Padres daquela primeira geração pós-apostólica que com ele trataram pessoalmente ou se formaram na fé cristã com os que tinham vivido com ele, como S. Pápias de Hierápole, S. Policarpo de Esmirna, Santo Inácio de Antioquia e Santo Ireneu de Lião. E são estas precisamente as fontes donde vêm as melhores informações que a Tradição nos transmitiu acerca desta última etapa da vida do apóstolo.

São João, já como um ancião, depara-se com uma terrível situação para a Igreja, Esposa de Cristo: perseguições individuais por parte de Nero e perseguições para toda a Igreja por parte de seu sucessor, o Imperador Domiciano.

Além destas perseguições, ainda havia o cúmulo de heresias que desentranhava o movimento religioso gnóstico, nascido e propagado fora e dentro da Igreja, procurando corroer a essência mesma do Cristianismo.

Nesta situação, Deus concede ao único sobrevivente dos que conviveram com o Mestre, a missão de ser o pilar básico da sua Igreja naquela hora terrível. E assim o foi. Para aquela hora, e para as gerações futuras também. Com a sua pregação e os seus escritos ficava assegurado o porvir glorioso da Igreja, entrevisto por ele nas suas visões de Patmos e cantado em seguida no Apocalipse.

Completada a sua obra, o santo evangelista morreu quase centenário, sem que nós saibamos a data exata. Foi no fim do primeiro século ou, quando muito, nos princípios do segundo, em tempo de Trajano (98-117 dC).

Três são as obras saídas da sua pena incluídas no cânone do Novo Testamento: o quarto Evangelho, o Apocalipse e as três cartas que têm o seu nome.

São João Evangelista, rogai por nós!


Salmo responsorial96/97

Ó justos, alegrai-vos no Senhor!

Deus é rei! Exulte a terra de alegria,

e as ilhas numerosas rejubilem!

Treva e nuvem o rodeiam no seu torno,

que se apóia na justiça e no direito.

As montanhas se derretem como cera

ante a face do Senhor de toda a terra;

e assim proclama o céu sua justiça,

todos os povos podem ver a sua glória.

Uma luz já se levanta para os justos,

e a alegria, pra os retos corações.

Homens justos, alegrai-vos no Senhor,

celebrai e bendizei seu santo nome!


Evangelho (João 20,2-8)

— O Senhor esteja convosco.

— Ele está no meio de nós.

— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo João.

— Glória a vós, Senhor!

20 2 Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava: "Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!"

3 Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro.

4 Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.

5 Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou.

6 Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos no chão.

7 Viu também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não estava, porém, com os panos, mas enrolado num lugar à parte.

8 Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu e creu.

  • Palavra da Salvação.

  • Glória a Vós, Senhor!


Comentário do Evangelho

(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês)

O DISCÍPULO AMADO

A acolhida de Jesus e sua mensagem deram à comunidade de discípulos aos quais foi confiada a tarefa de levar adiante a missão do Mestre: estender, a toda humanidade, os benefícios da salvação. A convivência com Jesus como também o testemunho de seu modo de ser e de agir predispunham os corações dos discípulos para o aprofundamento da adesão a ele, explicitada no ato de fé.

A profundidade do relacionamento com Jesus variava de discípulo para discípulo. Esta é uma dinâmica própria da realidade humana. A figura do discípulo amado evocava um tipo de relacionamento profundamente afetivo com o Senhor. Relacionamento de confiança, de entrega da própria vida nas mãos do Mestre, de comunhão de sentimentos, de transparência mútua. Não se tratava, porém, de uma escolha arbitrária de Jesus, privilegiando, indiscriminadamente, certas pessoas e marginalizando outras. Antes, foi este discípulo que se deixou amar por Jesus e soube corresponder ao amor que lhe fora oferecido. Todos os discípulos poderiam ter feito o mesmo.

Ser discípulo amado, de certa forma depende do próprio discípulo, uma vez que o Mestre quer fazer morada no mais íntimo de cada um de seus seguidores. Deixar-se amar por Jesus comportava deixar-se plasmar e transformar por ele. Por isso, muitos se recusaram!

Oração

Senhor Jesus, quero viver a experiência de ser amado por ti, a ponto de toda minha existência ser plasmada e transformada por tua presença em mim