Índios declaram guerra contra exploração descontrolada de reservas naturais


Em Dourados, a comunidade indígena afirma que a industrialização destruiu fauna e flora

Do Jornal O Progresso

DOURADOS – Índios de todo o Estado de Mato Grosso do Sul estão declarando “guerra” contra a exploração descontrolada nas reservas naturais em todo o Brasil. Eles participaram do 2º Encontro Internacional de Jovens indígenas, que começou na sexta-feira e encerrou ontem na Aldeia Jaguapiru, em Dourados.

Caiuá pede que Constituição seja respeitada em favor dos povos indígenas (Foto: César Firmino) Caiuá pede que Constituição seja respeitada em favor dos povos indígenas (Foto: César Firmino)

De acordo com o indígena Caiuá Jorge Gomes, da aldeia Pirakuá, em Bela Vista, os desmatadores estão passando por cima da lei. “Em todo o país há exploração descontrolada das terras indígenas. Desmatam, acabam com todas as nossas fontes de sobrevivência. Eu nunca vi um fazendeiro preso, nunca vi um empresário preso por destruir reservas naturais. Aqui no Brasil, todos fingem que não existe a Constituição que resguarda os direitos das comunidades indígenas terem suas terras preservadas”, desabafa. Segundo ele, por conta dos desmatamentos, o Estado deveria mudar o nome para “Capim Grosso do Sul”. “Não existe mais mato. Foi levado tudo. Agora é só capim”, disse.

Na mesma linha de raciocínio, o índio terena Fernando Souza, diz que em Dourados toda a fauna e flora já estão destruídas pela exploração sem limites. Por causa disso, segundo ele, a comunidade não dispõe de recursos naturais básicos como água potável, o que gera dependência do poder público, responsável em levar água até a Reserva. “Há 40 anos atrás nossos índios não se preocupa-vam com alimentos porque tinham em abundância. Eles podiam nadar em córregos, beber água limpa e não tinham contato com contaminações. Estes problemas vieram com a industrialização que atingiu nossa Reserva”, destacou.

De acordo com a indígena Patrícia Tobon, da Colômbia, para mudar a situação das comunidades indígenas, eles precisam conhecer os seus direitos e defender que eles sejam respeitados. Ela falou sobre o mercado que virou a exploração da Amazônia e disse que apesar de concentrada no Brasil, os desmatamentos causam impactos ambientais no mundo todo, como as mudanças climáticas. “Estão comercializando e levando tudo. A madeira, a água, os bichos, a nossa flora e até as pedras dos rios”, alerta, observando que o caminho é a diminuição da industrialização. “Em países como a Colômbia, Peru e Equador os índios são consultados sobre qualquer atividade industrial. Eles é quem decide se aquela atividade será ou não realizada”, explicou, lembrando que o mesmo deveria ocorrer no Brasil.

A indígena douradense, Indianara Ramirez Machado, diz que o objetivo do Encontro é alertar o poder público sobre as problemáticas existentes nas comunidades indígenas, além de trocas de experiências com indígenas de outros países. Os temas tratados, entre outros, serão: Meio ambiente; Políticas públicas, Meios de comunicação, Direitos indígenas e Educação. As comunidades buscam expressar suas opiniões conquistando seus lugares no futuro dos povos indígenas. Segundo Indianara é preciso, estabelecer políticas públicas que de fato beneficiem a comunidade indígena.