Indústrias de MS sofrem com tarifaço da Enersul
Setor reclama que tarifa praticada em Mato Grosso do Sul gera concorrência desleal com outros estados
Do Progresso
O reajuste da tarifa de energia elétrica de Mato Grosso do Sul deverá causar um impacto ainda incalculável no setor industrial do Estado. Desde a última sexta-feira, já está valendo o reajuste médio de 17,49% aos consumidores de MS – no caso das indústrias, que são consumidores de alta tensão, o reajuste será de 14,82%.O valor autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), pegou os consumidores de surpresa e provocou grande preocupação do setor industrial, que depende da energia elétrica para a produção.
Segundo o setor, o aumento abusivo na tarifa de energia provoca concorrência desleal com outros Estados, onde o custo de produção é mais baixo devido à carga tributária reduzida e tarifas de energia elétrica mais baixa. “Esse aumento vai comprometer a competitividade da indústria sul-mato-grossense”, disse ontem o presidente da Fe-deração das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), Sérgio Longen, que disse ainda estar preocupado com o impacto do reajuste no setor. “A energia cara compromete o desenvolvimento econômico do Estado, tanto na relação com outras unidades da federação, como com outros países”, analisou, completando que o percentual aprovado para o reajuste da Enersul é o maior entre as 10 concessionárias de energia que estão tendo reajustes aprovados neste mês de abril.
O novo valor cobrado pela produção e distribuição de energia elétrica terá impacto diferente nas indústrias do Estado, e varia de acordo com o nível de consumo, os métodos secundários utilizadas para obtenção de energia e também a dependência da energia elétrica para a produção. O gerente administrativo César Scheide explica que, no caso da Inflex, o impacto no custo de produção deve chegar aos 0,5%. “Pode até parecer pouco, mas não é”, diz ele. “0,5% é muito quando falamos de um mercado que disputa cada centavo na concorrência”, justifica.
Segundo ele, em 2001 a indústria adquiriu três geradores movidos a diesel, utilizados apenas nos horários de pico (das 18h às 20h), quando o custo pelo kilowatt sobe de R$ 0,14 para R$ 1,15. “O gerador é utilizado apenas algumas horas por dia, mas daí provocamos um problema ambiental de queima de combustível”, comenta. Segundo o gerente, a Inflex pro-duz embalagens industriais e 90% da produção vai para fora do MS, daí a importância de manter uma concorrência justa com outros estados.
Multinacionais
O gerente administrativo da Imesul, Danilo Dantas, também reclama do fim do chamado contrato de energia de ponta, em vigor até o ano passado, que estabelecia um preço único para a tarifa de energia, independente do horário. Segundo ele, apenas com o fim deste acordo, o custo mensal da indústria com energia elétrica passou de R$ 40 mil para R$ 55 mil ou R$ 60 mil. “Ou seja, com o reajuste de mais 17% a conta de energia elétrica vai dobrar em menos de seis meses”, reclama.
O gerente também queixa-se da concorrência, muitas vezes com empresas multinacionais, onde o custo de produção é ‘baixíssimo’, segundo ele. “A concorrência é disputada centavo a centavo. Com a super tarifa em MS, as indústrias ficam sem condições de preço para vencer a concorrência”, acrescenta. Ele informou que a indústria ainda avalia os impactos do reajuste, mas já adiantou que, inevitavelmente, este custo será repassado ao produto final. A Imesul, também em Doura-dos, produz estruturas metálicas, utilizadas por serralheiros como matéria-prima de produção.
Inflação
Na avaliação do economista Leonardo Mussury, o tarifaço na energia elétrica de MS deverá provocar, ao longo de cin-co ou seis meses, o encarecimento linear de produtos e serviços da economia. “Haverá um aumento inevitável, gerando uma inflação sentida principalmente pela classe mais pobre”, afirmou. Conforme o economista, além da energia elétrica, o setor industrial também sofre com o reajuste dos combustíveis, outro importante insumo de produção. Leonardo Mussury também criticou a alta carga tributária praticada no Estado e disse que o governo não contribui para o desenvolvimento industrial. “Em MS existe uma ‘fera’ que só pensa em arreca-dar. A política tributária do Estado é penosa e o governo não contribui em nada para mudar este cenário”, avalia.
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