Iniciativa: detentos transformam ‘lixo’ em arte


Flávio Verão - Jornal O Progresso

Transformar o que é jogado no lixo em arte. O artesanato que utiliza materiais recicláveis agora está fazendo parte da rotina de mais de cem detentos da penitenciária máxima Harry Amorim Costa (Phac), em Dourados. Ontem ocorreu a 8º Mostra Cultural do presídio e nesta edição o tema em destaque é “do lixo ao luxo”.

Criatividade não faltou entre os detentos. Após uma pesquisa feita pelas onze professoras que atuam na escola Regina Lúcia Anffe Nunes Betine, no interior do Phac, foram criados diferentes grupos de detentos. Cada equipe ficou responsável em atuar com um determinado tipo de ‘lixo’.

Genésio mostra o resultado do trabalho de sua equipe. (Foto: Hedio Fazan) Genésio mostra o resultado do trabalho de sua equipe. (Foto: Hedio Fazan)

O grupo de Nilson Viana Melo, 48 anos, trabalhou com caixas e tablados de madeira. Eles soltaram a imaginação e confeccionaram uma sala de estilo rústico. A estante foi toda feita com caixas de frutas. Ganhou apenas pintura a verniz e divisórias. Ficou perfeita.

Construíram também uma mesa de centro. Pegaram um carretel de madeira e agregaram revestimentos para dar um toque de elegância. O centro da mesa foi revestido com canudos de jornal. O acabamento ficou firme e capaz de sustentar qualquer tipo de peso. Chamou a atenção o tom do verniz. A mesma criatividade foi dada ao sofá de dois lugares. Os tablados de madeira ganharam almofadas para dar conforto. Sua pintura, é claro, foi a verniz.

“Eu já dominava a técnica de confecção de abajur e carrinhos de madeira. Isso facilitou bastante construir os móveis da sala”, disse Nilson Viana. Agora ele pretende junto ao grupo construir outras estantes para a biblioteca da escola. “Esse é o nosso primeiro trabalho de artesanato e não queremos encerrar por aqui”, ressaltou, mostrando-se satisfeito pela qualidade dos produtos.

A mostra cultural contou também com apresentações musicais. Várias duplas mostraram o talento na voz e no violão. Teve música de vários estilos. Já o artesanato ficou exposto no pátio da escola e pôde ser apreciado por diferentes autoridades.

Genésio Ribeiro Guimarães trabalhou com embalagens de iogurte, de amaciante e de outros produtos do gênero. Utilizaram também tampas de refrigerante. Com muita criatividade, sob o auxílio das professoras, confeccionaram robôs. “Tenho orgulho de ter feito esses brinquedos. A maior satisfação é que vou poder presentear a milha filha e falar a ela sobre a importância da reciclagem, da consciência ambiental”, disse o detento.

Quem também soltou a imaginação na confecção de brinquedos foi Valdeci de Morin. Com três barras e meia de sabão ele confeccionou uma carreta bitrem. O sabão foi cortado na moldura do veículo e depois ganhou tinta guache. “Quando eu sair da prisão quero trabalhar com artesanato”, disse ele, ressaltando a importância da mostra. “Aprendi um trabalho e agora quero investir”, afirmou. O carrinho que ele confeccionou já está vendido para um funcionário do PHAC.

 
Valdeci confecionou carrinhos com sabão Valdeci confecionou carrinhos com sabão

ENCOMENDAS

Como a mostra foi considerada um sucesso, a administração da Phac tem como proposta dar continuidade no projeto de artesanato. Interessados a adquirir produtos confeccionados pelos detentos podem fazer encomendas pelos telefones 3902-1226 ou 3902-2855, com Jacson. Dentre os trabalhos há tapetes, redes, brinquedos, quadros, cestos, abajur e objetos decorativos em geral.

O diretor da Phac, Joel Rodrigues Ferreira, diz que o trabalho dos detentos é revertido na redução da pena. Segundo ele, a escola da Phac tem contribuído muito para o aprendizado dos detentos. “É um trabalho educativo de grande expressão”, afirmou.

[Fotos: Hedio Fazan]

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