Justiça não definiu gráfica para imprimir prova do Enem
Fonte: Globo.com
Faltam só três meses para o Exame Nacional do Ensino Médio e ainda não foi definida a gráfica que vai imprimir as provas. A decisão está na Justiça.
Procura-se uma gráfica de segurança máxima para imprimir o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). No ano passado, o exame virou caso de polícia: a prova foi furtada da gráfica e acabou adiada.
“Não está passando a sensação de ser um exame seguro, um exame moderno de seleção”, comenta a estudante Priscila Esteves, de 17 anos.
“Você estuda para aquele dia e, de repente, a prova foi roubada”, lamenta a estudante Isis de Abreu.
“Ele passou a valer muito, passou a ser a porta de entrada para cursos muito cobiçados. Quando isso acontece é como transportar dinheiro, uma coisa muito cobiçada”, diz o especialista em avaliação Leandro Tessler, da Universidade da Campinas (Unicamp).
Este ano, o Ministério da Educação (MEC) exige da gráfica:
- raio x e detectores de metais;
- funcionários identificados por impressão digital;
- câmeras a cada 20 metros quadrados, monitoradas 24 horas;
- vigilantes a cada cem metros quadrados.
Tudo está especificado em um documento com as regras para a concorrência. A escolhida deveria ser a gráfica que cumprisse todos os itens de segurança pelo menor preço. O valor mais baixo foi oferecido pela Gráfica Plural, que é a mesma de onde a prova foi furtada no ano passado. Mas o MEC recusou a gráfica e, agora, a Plural pede na Justiça a revisão da decisão.
O Fantástico entrou na gráfica no exato dia em que os testes de impressão deveriam ter começado. O diretor geral não quis gravar entrevista, mas contou que desde o ano passado, quando o Enem foi roubado lá de dentro, cerca de R$ 15 milhões foram investidos em equipamentos de segurança. Para a empresa, o MEC deveria ter visitado o local antes de decidir pela desclassificação na concorrência do Enem.
Para o MEC, a verificação era desnecessária porque, como indica um documento, a Plural não tem experiência com trabalhos que exigem tanta segurança.
A Justiça decide esta semana onde a prova será impressa. Enquanto isso, nada acontece em uma área restrita, que a Plural garante estar pronta para imprimir a prova.
“Eu esperava que este ano corresse tudo perfeitamente”, diz o estudante Lucas Urushio, de 18 anos.
“Um dos objetivos era acabar com o estresse do vestibular. Agora, está sendo criado o estresse do Enem”, diz a educadora Maria Helena Guimarães de Castro, que fez parte da equipe do MEC que criou o Enem, em 1998, quando 160 mil alunos prestaram a prova. “Era uma referência individual de avaliação. Não era seleção”, afirma.
Mas no ano seguinte, o Enem já começou a valer pontos em vestibulares importantes. Dez anos depois, a grande mudança: o Enem passou a ser usado por universidades federais no lugar do vestibular. Este ano, 4,5 milhões de alunos se inscreveram.
“Na medida que você aumenta o tamanho, a chance de as coisas darem errado aumenta”, avalia Leandro Tessler.
Os estudantes querem saber: o Enem deste ano vai atrasar? O Fantástico levou a dúvida dos alunos até Brasília, para o responsável pela prova.
“As provas vão ser dias 6 e 7 de setembro, conforme anunciado”, garante Joaquim José Soares Neto, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep).
“Eu queria saber como está sendo a segurança da prova”, diz o estudante Luis Pinho, de 17 anos.
“Estamos cuidando ponto a ponto da segurança do exame – na parte da gráfica, na parte da distribuição, na parte da aplicação”, esclarece Joaquim José Soares Neto.
Segundo o MEC, a distribuição e o armazenamento das provas vai ser acompanhado pelas polícias Militar e Federal.
“Uma prova desse tamanho, centralizada, feita em um dia só, dificilmente vai dar certo sem nenhum problema. Isso é muito difícil”, comenta Maria Helena Guimarães de Castro.
Uma das soluções pode vir dos Estados Unidos, do exame que inspirou o Enem. A prova que seleciona alunos para as universidades americanas acontece várias vezes ao ano e pode ser feita até pelo computador, em salas especialmente reservadas. Isso é possível porque, ao longo dos anos, foi formado um enorme banco de questões: são 130 mil itens. O acervo no Brasil ainda é pequeno: apenas 10 mil questões. A intenção é ampliá-lo.
“Isso vai fazer com que, no futuro, o Enem possa ser aplicado em várias versões, em várias vezes”, explica Joaquim José Soares Neto.
Os alunos esperam um Enem sem polêmicas.
“Acho que daqui a um tempo eles vão aperfeiçoar e reconhecer os erros. Acho que o Enem vai dar certo mais para frente”, comenta Marjorie Romano.
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