Kit anti-homofobia não prevê treinamento de professores
USO DO MATERIAL DIRIGIDO AO ENSINO MÉDIO PREOCUPA EDUCADORES
Do Dourados Agora
O kit anti-homofobia ainda não chegou às escolas e já está gerando muita polêmica entre a sociedade. A principal preocupação é que os professores que vão tratar sobre “sexualidade” em sala de aula não devem receber treinamento. Eles passariam a acumular mais uma função, além de lecionar as disciplinas do currículo escolar, seriam também orientadores sobre a vida pessoal/afetiva dos estudantes. Para tratar sobre o assunto O PROGRESSO ouviu professor, psicóloga, padre e representante da Associação de Gays, Lésbicas e Transgêneros de Dourados.
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Chamado de “Escola sem Homofobia”, o kit contém um caderno com orientações para professores, uma carta para o diretor da escola, cartazes de divulgação nos murais do colégio e seis boletins para distribuição aos alunos em sala de aula. Além disso há vídeos em DVD que tratam de homo e bissexualidade. Os materiais devem ser distribuídos a seis mil escolas do ensino médio de todo o país, a partir do segundo semestre de ano.
O que chama a atenção é que o Ministério da Educação (MEC), que elaborou o kit junto a entidades de defesa dos direitos humanos e da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) a partir do diagnóstico de que falta material adequado e preparo dos professores para tratar do tema, não anunciou oficialmente se os professores vão passar por treinamento. O prazo para capacitar os docentes também seria curto, já que falta poucos dias para o mês de junho e os kit’s seriam distribuídos aos professores no final de julho, retorno das férias letivas.
OPINIÕES
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Dourados (Simted), José Carlos Brumatti, o uso do kit contra a homofobia deve ser debatido entre a comunidade escolar. “Por se tratar de um assunto polêmico é necessário ouvir os pais, professores e alunos antes de se levar cartilhas e vídeos para as salas de aulas”, avalia. Na opinião de Brumatti a escola estaria apta para tratar o assunto, embora ele reconheça que há professores contrários e a favor do kit. “Alguns já têm a opinião formada, mas outros ainda não. Vejo que não é tão simples assim debater a sexualidade com os alunos. Não sabemos de sua realidade em casa, com os pais. Tudo isso deve ser pensado”, reitera o sindicalista.
O kit anti-homofobia, apelidado como “kit gay”, ainda não está disponível em sua totalidade. Apenas três vídeos já estão circulando na internet. No primeiro, um garoto chamado Leonardo se apaixona por um amigo, mas também descobre o interesse por uma menina. Um outro mostra duas garotas que assumem o namoro para combater o preconceito. O último traz a história do transexual José Ricardo, que tem vontade de ser reconhecido como Bianca. Os vídeos podem ser conferidos no site de O PROGRESSO, pela palavra-chave “homofobia”, na ferramenta de busca.
O material já foi visto por professores de todo o país. Muitos desaprovam o conteúdo. Estudantes também não gostaram. Eles acham que o vídeo pode ser prejudicial. A psicóloga clínica e professora universitária Rosimeire Martins, mestre em Ciências da Saúde, entende que o kit anti-homofobia não irá influenciar na sexualidade dos estudantes. “A pessoa não depende desse estímulo para descobrir se é ou não homossexual”, diz a psicóloga. Ela aponta que essa característica vem da formação pessoal de cada indivíduo. “A tentativa de debater o preconceito contra o homofobia é positivo, mas só isso não irá resolver o problema. É preciso que haja um envolvimento da sociedade, ou seja, que primeiro seja feito um trabalho de sensibilização para que ele se transforme em conscientização”, destaca Rosimeire Martins. Para ela, se não houver educação acompanhada, o projeto “Escola sem Homofobia” pode perder seu objetivo. No entanto, a psicóloga ressalta que é necessário respeitar as opiniões, já que muitas pessoas não concordam com o kit no ambiente de ensino.
O material encomendado pelo MEC visa combater a violência contra homossexuais nas escolas públicas do país. O padre Crispim Guimarães, filósofo, teólogo e pároco em Laguna Carapã, avalia que o kit cria ainda mais preconceito contra o homofobia. “A igreja não trata o homossexualismo como realidade natural, mas não discrimina nenhuma pessoa”, pontua o padre.
Já a presidente da Associação de Gays, Lésbicas e Transgêneros de Dourados (AGLTD), Cláudia Assunção, diz que é de fundamental importância a escola debater o preconceito contra os homossexuais. “Nós da associação já desenvolvemos um trabalho de palestras nas escolas, mas percebemos que não somos aceitos pelos professores. Isso tem que acabar e essa proposta do MEC veio em um momento oportuno”, finaliza a presidente da AGLTD.
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