Tecnologia melhorou reação do Rio à enchente

Sistema de alarme em favelas funcionou bem na estreia, mas alerta foi dado apenas instantes antes da tempestade. Novo radar tornará a cidade mais segura

Da Veja
O prefeito do Rio, Eduardo Paes, observa junto aos operadores o funcionamento do telão de 80 metros quadrados, no Centro de Controle da prefeitura (Gustavo Pellizzon/Ag.O Globo) O prefeito do Rio, Eduardo Paes, observa junto aos operadores o funcionamento do telão de 80 metros quadrados, no Centro de Controle da prefeitura (Gustavo Pellizzon/Ag.O Globo)
A principal coisa que ainda falta é antecipar tempo”, avalia Carlos Osório, secretário de Conservação da prefeitura. "O novo centro vai permitir antecipar as chuvas em 48 horas, com 80% de probabilidade de acerto. Se nós já dispuséssemos dessa tecnologia, o carioca saberia que deveria ir embora mais cedo, ou permanecer nos locais de trabalho, e as equipes de drenagem estariam devidamente posicionadas."

Forte chuva na cidade deixa o Rio Joana, na Tijuca, zona norte da cidade, inundado, próximo a Rua São Francisco Xavier. Forte chuva na cidade deixa o Rio Joana, na Tijuca, zona norte da cidade, inundado, próximo a Rua São Francisco Xavier.

A chuva que atingiu o Rio de Janeiro na noite de segunda-feira e a madrugada de terça resultou em imagens tristemente semelhantes às de todas as outras grandes chuvas na cidade. Carros à deriva, alagamentos, gente se arriscando com água pela cintura, enormes engarrafamentos, lama acumulada pelas ruas, deslizamentos. No entanto, embora com desempenho muito aquém do necessário a uma grande metrópole o Rio mostrou que começa a andar no rumo certo para prevenir catástrofes resultantes de enxurradas.

A Defesa Civil, ao receber a previsão de chuvas fortes, disparou uma mensagem de texto para duas mil moradores de favelas através dos celulares que elas receberam da prefeitura. O pedido era para que ficassem em alerta e avisassem aos vizinhos. Com a intensificação da tempestade e a informação do radar meteorológico da cidade do Rio de que a chuva continuaria, as sirenes dos morros foram acionadas. Muita gente ainda relutou em atender ao pedido de que procurassem um lugar seguro. Mas foi o alerta sonoro que salvou uma família inteira no Morro da Formiga, que foi acordada e saiu momentos antes de um deslizamento.

O problema continua sendo o atraso dos avisos meteorológicos. O radar meteorológico do Rio, que começou a funcionar no final do ano passado, consegue detectar a aproximação da chuva. Mas isso só acontece quando o evento já está muito próximo de acontecer. A cidade entrou em estado de alerta quando já havia ruas começando a alagar em bairros da zona Norte. Isso prejudica toda a rede de comunicação que já está montada, inclusive através das redes sociais, e impede que as providências práticas, como deslocamento de policiais para controlar o trânsito em áreas mais problemáticas, sejam tomadas em tempo hábil.

O secretário de Conservação do Rio, Carlos Osório, diz que a partir de julho, com a inauguração do centro avançado de previsão meteorológica, a cidade ficará mais segura. O novo centro vai permitir antecipar as chuvas em 48 horas, com 80% de probabilidade de acerto. “Isso vai permitir que nos programemos para os efeitos da chuva. Se nós já dispuséssemos dessa tecnologia, o carioca saberia que deveria ir embora mais cedo, ou permanecer nos locais de trabalho, e as equipes de drenagem estariam devidamente posicionadas”, diz.

Para o subsecretário de Defesa Civil, Sergio Simões, também falta treinar a população: “Treinamento, treinamento e treinamento”, como diz Simões. Em no máximo dois meses, começarão as simulações para desocupação das favelas. A ideia é preparar os moradores para situações como a desta madrugada. “Temos que informar, esclarecer, tornar a população dos morros participativa para, ao final, conseguirmos a conscientização necessária”, afirma o coronel.

Ainda assim, esta foi a vez que a cidade reagu melhor. "Foi a vez em que a prefeitura respondeu aos efeitos da chuva com maior precisão, por causa do investimento em tecnologia", diz o engenheiro Moacyr Duarte, coordenador do grupo de análise de risco tecnológico e ambiental da Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da UFRJ.

Duarte refere-se ao Centro de Operações da prefeitura, que centralizou informações sobre o que acontecia em toda a cidade, ao radar meteorológico e ao sistema de alarme que funcionou pela primeira vez em 11 favelas. "Com o radar meteorológico, foi possível, como nunca antes, enxergar a distribuição das chuvas. Os alertas foram acionados e o centro de operações pôde coordenar a resposta e monitorar os recursos para atender às áreas prioritárias. A resposta está ficando mais rápida e precisa."

A intensidade da enxurrada foi grande: na Tijuca, zona norte, houve o terceiro maior pico de chuva desde 1997, com a 99,6 milímetros de precipitação às 21h de ontem. A habitual contabilidade de mortos foi reduzida para um óbito, na Praça da Bandeira, também na zona norte. “Dos 200 chamados para os quais fomos acionados, 150 foram de pouca relevância. No ano passado, em março e em dezembro houve duas chuvas que mataram 15 pessoas. E a intensidade da água foi menor ou semelhante à de agora”, diz o subsecretário de Defesa Civil.

Moacyr Duarte, da Coppe, resume: "O Rio precisa agora complementar a capacidade de resposta prática, com a ampliação da área de assistência da defesa civil municipal, a criação e fortalecimento de núcleos locais de defesa civil comunitária e treinamentos para agir com o alarme das sirenes.”