22/10/2019 08h11

Bolívia: Apoiadores de Carlos Mesa vão às ruas para protestar contra 'fraude' nas eleições presidenciais

Apuração preliminar que dava vitória a Evo Morales no 1º turno levou apoiadores de Carlos Mesa às ruas em várias regiões do país.
G1

Milhares de pessoas foram para as ruas de diversas cidades da Bolívia na noite desta segunda-feira (22) para protestar enquanto uma apuração preliminar apontava que Evo Morales tinha vantagem suficiente para garantir a sua reeleição ainda no primeiro turno. Apoiadores de Carlos Mesa denunciam uma suposta fraude nas apurações. Houve relatos de confrontos em Sucre, Oruro, Cochabamba e La Paz, entre outras cidades.

Uma contagem preliminar, que tinha sido interrompida na noite de domingo (21), foi retomada na segunda e chegou a apontar uma vantagem suficiente para garantir a vitória de Morales no primeiro turno, mas depois a vantagem diminuiu. Até as 22h45 (horário de Brasília) o resultado ainda era incerto, mas os apoiadores de Carlos Mesa foram às ruas para protestar.

Na Bolívia, um candidato pode ser declarado vencedor no primeiro turno se tiver 50% dos votos mais um, ou se tiver 40%, com dez pontos de vantagem sobre o segundo colocado.

Policial joga spray de pimenta em apoiador do principal candidato presidencial da oposição a Evo Morales, Carlos Mesa, durante protesto em La Paz, na Bolívia — Foto: Jorge Bernal / AFP Policial joga spray de pimenta em apoiador do principal candidato presidencial da oposição a Evo Morales, Carlos Mesa, durante protesto em La Paz, na Bolívia — Foto: Jorge Bernal / AFP

Às 22h45, com 95,63% dos votos apurados na contagem preliminar, Evo Morales tinha 46,4%, e Carlos Mesa aparecia com 37,07%.

Já no sistema de contagem voto a voto, mais lento, no mesmo horário haviam sido apurados 89,40% dos votos, com Mesa liderando, com 42,29%, enquanto Morales tem 42,04%.

O candidato opositor Carlos Mesa já declarou que não reconhecerá os resultados de uma apuração fraudada. O tribunal eleitoral "fraudou a apuração e deu 10 pontos de diferença [para Morales]. Agora imagino que vão aumentar isto, consumando a fraude, consumando um roubo eleitoral inaceitável", denunciou Mesa.

A apuração continua e as autoridades governamentais fizeram um apelo para que se aguarde o resultado final.

  • Dois sistemas de contagem

O clima nas ruas se deteriorou depois que o sistema de Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares, batizado de Trep, teve o serviço suspenso no domingo no momento em que a contagem individual de votos começou a dar resultados muito distintos das atas de mesa da eleição.

O ministro das Comunicações boliviano, Manuel Canelas, afirmou que o órgão eleitoral errou ao não deixar claro que havia duas contagens simultâneas.

A incerteza provocou temores entre observadores e diplomatas sobre possíveis manipulações dos votos para evitar um segundo turno e provocou inquietação sobre o que poderia ocorrer no país.

A Organização dos Estados Americanos (OEA), que enviou um grupo de observadores, manifestou "profunda preocupação e surpresa" com o que chamou de "mudança drástica e difícil de justificar na tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das urnas".

O chefe da missão da OEA, Manuel Gonzáles, afirmou que a alteração no resultado é inexplicável, modifica o destino das eleições e gera perda de confiança no processo eleitoral. "Pedimos à autoridade eleitoral para que defenda decididamente a vontade dos cidadãos bolivianos, com respeito à Constituição, de forma ágil e transparente."

Brasil, Argentina e Estados Unidos também expressaram preocupação com a interrupção da divulgação oficial de resultados.

 
Membro das forças de segurança é visto em meio à fumaça provocada por gás lacrimogêneo em protesto de apoiadores de Carlos Mesa em La Paz, Bolívia, na segunda-feira (21) — Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

Membro das forças de segurança é visto em meio à fumaça provocada por gás lacrimogêneo em protesto de apoiadores de Carlos Mesa em La Paz, Bolívia, na segunda-feira (21) — Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters

Protestos

Uma multidão enfurecida incendiou a fachada da sede do tribunal eleitoral da cidade de Sucre, 700 km a sudeste de La Paz, em meio aos gritos de "fraude!", fazendo a polícia de choque recuar.

Após afugentar a polícia, os manifestantes ocuparam o acesso ao tribunal eleitoral, abandonado pelos funcionários, revelou o site do jornal "Correo del Sur", de Sucre.

Em Oruro (sul), centenas de jovens tentaram ocupar a sede do tribunal eleitoral, mas foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo pela polícia de choque, segundo o portal Doble Impacto.

Em Cochabamba (centro), manifestantes romperam o perímetro de isolamento do local da apuração, mas foram finalmente contidos pela polícia, revelou o jornal Opinión.

Coletivos de Potosí (sudoeste) também se mobilizaram contra a suposta fraude na apuração.

Em La Paz, grupos de opositores protestavam nas ruas e acusavam o tribunal eleitoral de fraudar a apuração para beneficiar Morales, enquanto partidários do presidente comemoravam sua reeleição no primeiro turno. Houve confronto entre opositores e a polícia.


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