Discurso sobre o jejum
Portal Católico
Apesar de os profetas terem insistido menos sobre a severidade do jejum e muito mais sobre a conduta justa e caritativa para com o próximo, os discípulos de João Batista e os fariseus multiplicavam jejuns e orações. Em Jesus a voz dos profetas se plenifica. O jejum torna-se sinal de um novo relacionamento com Deus e com o mundo, pois, acompanhado pela oração, ele supõe atos e atitudes de humildade, de amor e de esperança. Gesto religioso, ele prepara o homem para acolher a vinda do Reino de Deus. Nenhum sentido, pois, teria o jejum; pelo contrário, estaria se opondo ao Reino de Deus, restaurado por Cristo. Esse tempo não é tempo de jejum, mas de alegria e de festa.
Para melhor ser compreendido, Jesus se apresenta como o “noivo” das núpcias de Deus com o seu povo, e os discípulos são descritos como os amigos do noivo. Aos que criticam os Apóstolos por não jejuarem, Jesus, com certa ironia, pergunta-lhes: “Podem os amigos do noivo jejuar enquanto o noivo está com eles?” S. Hilário de Poitiers conclui que “o fato de eles não jejuarem demonstra a alegria dos discípulos com a presença de Jesus. Nesse período, não se há de jejuar, porque o Esposo está lá e com Ele o tempo messiânico, tempo de núpcias, de abundância e de alegria”. Mas a observação do Senhor, para indicar o tempo após sua morte, não lhes escapa: “Quando Ele lhes for tirado, eles jejuarão”. Ou no dizer de S. Basílio Magno: “Eles então jejuarão, pois suas vidas estarão orientadas para as realidades, que ultrapassam os bens simplesmente materiais e carnais”. Isso, sem jamais deixar de saciar uma fome diferente, a fome da bondade e da misericórdia, do perdão e do amor.
Orígenes diz por sua vez que o jejum é um caminho para se chegar à profundidade da nossa alma, “lá onde se encontra a imagem de Deus escondida. Cabe-nos pelo jejum liberá-la da terra e purificá-la de toda sujeira para encontrar a água viva, aquela água da qual diz o Senhor: ‘Quem crê em mim, de seu seio jorrarão rios de água viva’” (Jo 7,38). À pergunta do abade Pambo sobre o que ele deveria fazer, o abade Antônio responde: “Não confies na tua justiça, não te aflijas com o passado, põe freio à tua língua e ao teu ventre!”.
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