02/07/2018 07h24
Dom Leonardo Steiner: "Vamos ter confiança e torcer para que o Brasil possa conquistar a taça"
Dom Leonardo também chama atenção para o esquecimento das questões fundamentais do país e deseja que o futebol contribua na criação da unidade nacional.
CNBB
O bispo auxiliar de Brasília (DF) e secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner, fala sobre o envolvimento do povo brasileiro com a Copa do Mundo de futebol, que acontece na Rússia. Para ele, a goleada aplicada pela Alemanha no último mundial, aqui no Brasil, pode ter diminuído o interesse com o evento, que tende a aumentar com a melhoria da performance do time e o avanço nas fases seguintes. Dom Leonardo também chama atenção para o esquecimento das questões fundamentais do país e deseja que o futebol contribua na criação da unidade nacional. "Se o futebol puder nos ajudar a sermos menos divididos e juntos pensarmos num Brasil melhor, o futebol terá dado uma excelente contribuição", afirmou.
Confira a entrevista na íntegra.
O Brasil avança para as oitavas de final. Isso aumenta a empolgação e o envolvimento do povo com o evento?
Eu penso que o futebol não é uma mera distração para o povo brasileiro e para muitos países que gostam do futebol. Futebol é um modo de expressão cultural, de criatividade, é um modo nosso de torcer, é um modo humano de participar. Pode ser também uma alienação, se, por exemplo, aproveitamos o momento da copa para poder passar determinados projetos no Congresso Nacional, como, por exemplo, a questão dos agrotóxicos. Pode acontecer ou talvez esteja acontecendo, de que no momento da Copa nós não estejamos discutindo suficientemente questões fundamentais para o povo brasileiro, como, por exemplo, a política, o direito, a justiça. Nós estamos dando importância ao candidato à presidência, mas não estamos discutindo suficientemente, com profundidade, a eleição do Congresso Nacional ou das Assembleias Legislativas e da Câmara do Distrital Federal. Então pode ser que o momento da Copa seja uma espécie de esquecimento de questões fundamentais para a sociedade brasileira.
A gente espera que torcer pelo Brasil, vibrar pelo Brasil, não leve ao esquecimento da nossa realidade concreta. O que nos une no futebol, possa nos unir também em torno de questões essenciais da nossa cotidianidade para termos uma sociedade justa, equilibrada, fraterna.
A esperança do nosso povo pode ser afetada de alguma forma a partir do resultado dentro de campo? Isso no sentido de união nacional em vista de um futuro mais promissor e menos desigual.
Nós vivemos um momento interno de divisão. Não é uma mera divisão política, nós vemos pela agressividade das palavras que existe quase uma ruptura na sociedade brasileira. Se o futebol puder nos ajudar a sermos menos divididos e juntos pensarmos num Brasil melhor, o futebol terá dado uma excelente contribuição. Mas independente do futebol, nós precisamos sempre trilhar o caminho do diálogo, o caminho da compreensão. O futebol pode nos ajudar nesse diálogo. E se chegarmos à vitória, chegarmos não apenas no futebol, precisamos chegar à vitória também em relação à política, em relação à sociedade brasileira, em relação à justiça, ao direito, em relação a tantos elementos que compõem a sociedade brasileira. Talvez o futebol nos ajude, queira Deus que ajude. Mas, se também não chegarmos a conquistar o título, que ao menos cheguemos a conquistar aquilo que é imprescindível à sociedade brasileira: vivermos na democracia com justiça e fraternidade.