08/10/2020 19h34

Música litúrgica: a palavra assume o rosto de um som e infelizmente muitas vezes um som desafinado

Pe. Fernando Lorenz - Assessor Diocesano da Pastoral Litúrgica

Caro leitor, nesta edição, iremos aprofundar a importância da música ritual litúrgica nas celebrações. Partimos do princípio de que a música está a serviço da ação ritual desempenhando um papel fundamental de conduzir e elevar o coração dos participantes ao mistério celebrado. Como fortalecer os grupos de canto em nossas comunidades? Como trabalhar para uma maior integração entre equipe de celebração e grupos de música? Como levar os agentes envolvidos na celebração litúrgica a aprofundar o sentido do canto litúrgico de cada ação ritual? Não haveria a necessidade de aprofundar o sentido bíblico, teológico, pastoral e espiritual da música litúrgica? Será que nós investimos na formação técnica dos nossos músicos católicos, ou será que ainda persiste em nossas comunidades a lógica do "faz de conta" que cantamos? Será que os nossos músicos estão abertos para renovar-se, ou estão fechados em suas ilhas musicais? Somos capazes de escutar o outro na liturgia e na vida cotidiana?

Não pretendo responder a todos os desafios apresentados, mas sim suscitar o diálogo entre os agentes da pastoral litúrgica e os párocos para juntos estabelecer propostas que venham ao encontro das necessidades da pastoral do canto litúrgico.

O canto litúrgico é a arte de conjugar a Palavra e o rito. Ele reforça o poder da palavra de Deus e manifesta por meio da melodia a força e os efeitos dos ritos. Manifesta o grito de socorro do povo, o louvor, a gratidão, a dor, a alegria, a esperança da assembleia reunida. O canto torna visível a unidade da fé e nos convida a viver a escuta do próximo, nos convida à necessidade da disciplina e da harmonia. Santo. Agostinho, ao definir o canto litúrgico como "profissão sonora da fé", já fala do "canto eclesiástico" como aquele que é apto para cumprir a função litúrgica que dele se espera. Trata-se, portanto, de uma arte essencialmente funcional, vale dizer, trata-se de música ritual. A instrução "Musicam Sacram" afirma que além da formação musical, dar-se-á aos membros do coro uma formação litúrgica e espiritual adaptadas de modo que, ao desempenhar perfeitamente a sua função litúrgica, não se limitem a dar maior beleza à ação sagrada e um excelente exemplo aos fiéis, mas adquiram também eles próprios um verdadeiro fruto espiritual.

O DESAFIO ESTÁ NO FATO DE QUE NÃO INVESTIMOS NA FORMAÇÃO TÉCNICA DOS GRUPOS DE MÚSICA EM NOSSAS PARÓQUIAS. SERÁ QUE SÓ BOA VONTADE BASTA?

O músico e liturgista J. Gelineau já observou: O canto é sinal de alegria. Mas de onde vem esta alegria que leva a cantar? Ela nasce de um sentimento de plenitude no ser vivente que se expande sem amarras... Diante da beleza que o arrebata, o ser humano deixa subir de sua alma um grito de admiração. Ele sai de si mesmo com o som de sua boca, para se deixar carregar até o objeto do seu louvor. Definitivamente, o canto é a imagem viva do sacrifício espiritual.

Portanto, por meio da arte musical somos chamados a entrar no mistério da salvação. A preparação, o estudo e a dedicação em aprofundar os elementos fundamentais da liturgia e da música sacra é missão de todos os grupos de canto de nossas comunidades. Que nossas celebrações continuem orantes e vivenciais. Busquemos sempre em nosso grupo a espiritualidade para fortalecer a nossa ação pastoral. É urgente que as paróquias invistam financeiramente na formação técnica, litúrgica e espiritual dos grupos de música.

  • Pe. Fernando Lorenz

  • Assessor Diocesano da Pastoral Litúrgica


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