14/01/2020 18h28

O Papa: a autoridade não é comando, mas coerência e testemunho

Quanto mal fazem os cristãos "incoerentes" e os pastores "esquizofrênicos" que não dão testemunho, afastando-se assim do estilo do Senhor, da sua autêntica "autoridade": a homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta foi um comentário ao Evangelho proposto pela liturgia do dia.
Imagem retirada da internet. Imagem retirada da internet.

Gabriella Ceraso, Vatican News

"Jesus ensinava como quem tem autoridade". O Evangelho de Marcos (Mc 1,21-28) narra Jesus que ensina no templo e a reação que suscita entre as pessoas o seu modo de agir com "autoridade", diferentemente dos escribas. É desta comparação que o Papa se inspirou para explicar a diferença que existe entre "ter autoridade", "autoridade interior", como Jesus, e "exercitar a autoridade sem tê-la, como os escribas". Estes, mesmo sendo especialistas no ensinamento da lei e ouvidos pelo povo, não eram críveis.

O estilo de Jesus

Qual é a autoridade que Jesus tem? É o estilo do Senhor, aquela 'senhoria' – digamos assim – com a qual o Senhor se movia, ensinava, curava, ouvia. Este estilo senhorio – que é algo que vem de dentro – mostra... O que mostra? Coerência. Jesus tinha autoridade porque era coerente com aquilo que ensinava e aquilo que fazia, isto é, como vivia. Aquela coerência é o que dá a expressão de uma pessoa que tem autoridade: "Esta pessoa tem autoridade porque é coerente", ou seja, dá testemunho. A autoridade se mostra nisto: coerência e testemunho.

Os escribas, pastores esquizofrênicos que não dizem e não fazem

Ao contrário, os escribas não eram coerentes e Jesus, afirmou o Papa, de um lado adverte o povo a "fazer o que diziam, mas não o que faziam"; de outro, não perde a ocasião para repreendê-los, porque "com esta atitude caíram em uma esquizofrenia pastoral", segundo Francisco: diziam uma coisa e faziam outra. E o Papa recordou que isso acontece em vários episódios do Evangelho: às vezes, Jesus reage colocando-os de lado, às vezes não dando a eles nenhuma resposta e, ainda, "qualificando-os":

E a palavra que Jesus usa para qualificar esta incoerência, esta esquizofrenia, é "hipocrisia". É um terço de qualificativos! Vamos pegar o capítulo 23 de Mateus; muitas vezes diz: "hipócritas por isso, hipócritas …". Jesus os qualifica "hipócritas". A hipocrisia é o modo de agir daqueles que têm responsabilidade sobre as pessoas – neste caso, responsabilidade pastoral -, mas não são coerentes, não são senhores, não têm autoridade. E o povo de Deus é manso e tolera; tolera muitos pastores hipócritas, muitos pastores esquizofrênicos que dizem e não fazem, sem coerência.

A incoerência cristã é um escândalo

Mas o povo de Deus que tanto tolera – acrescentou Francisco – sabe distinguir a força da graça. E o Papa explicou fazendo referência à Primeira Leitura de hoje, em que o idoso Eli "tinha perdido toda a autoridade e tinha ficado somente com a graça da unção" e, com aquela graça abençoou e fez um milagre em Ana, que por sua vez suplicava para ser mãe. Este episódio serviu para Francisco fazer uma consideração acerca dos cristãos e dos pastores:

O povo de Deus distingue bem entre a autoridade de uma pessoa e a graça da unção. "Mas você vai se confessar com aquela pessoa, que é isso, isso e isso?" – "Mas para mim ele é Deus. Ponto. Ele é Jesus". E esta é a sabedoria do nosso povo, que tolera tantas vezes, tantos pastores incoerentes, pastores como os escribas, e também cristãos que vão à missa todos os domingos e depois vivem como pagãos. E as pessoas dizem: "Isto é um escândalo, uma incoerência". Quanto mal fazem os cristãos incoerentes que não dão testemunho e os pastores incoerentes, esquizofrênicos, que não dão testemunho! O Papa concluiu a homilia pedindo ao Senhor para que todos os batizados tenham a "autoridade", "que não consiste em comandar e aparecer, mas em ser coerente, ser testemunha e, por isso, ser companheiro de estrada no caminho do Senhor ".


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