13/01/2023 09h57

Por que o papa Francisco não quis morar no Palácio Apostólico do Vaticano?

Por tradição os papas moram no Palácio Apostólico do Vaticano
AciDigital

Dom Georg Gänswein, secretário do papa Bento XVI, conta em suas memórias publicadas hoje (12) por que o papa Francisco decidiu morar na Casa Santa Marta e não no Palácio Apostólico do Vaticano, onde por tradição moram os papas.

Segundo o relato do arcebispo no livro "Nada mais do que a verdade", em 15 de março de 2013, ele acompanhou o papa Francisco ao Palácio Apostólico para que pudesse tomar posse do apartamento.

"Eu mostrei a ele como os quartos estavam dispostos. Disse-lhe também que não teria problemas para se mudar da Casa Santa Marta, pois estava tudo em ordem e bastava uma limpeza normal do local", conta em suas memórias.

"Nesse momento, ele não me deu uma resposta", continua Gänswein, "fazendo-me entender que pensaria sobre isso".

Mais tarde, conta que o papa Francisco convidou o então superior geral dos Jesuítas, padre Adolfo Nicolás, e lhe escreveu: "Venha para Santa Marta, porque amanhã tenho que me mudar para o Palácio Apostólico e aqui tenho mais liberdade".

Passadas algumas semanas, o arcebispo voltou a lhe perguntar, e o papa lhe disse que "normalmente durmo como uma pedra, mas na noite seguinte a que vi o apartamento dormi muito mal".

Segundo Gänswein, o papa Francisco disse que "não estava acostumado a viver em espaços tão grandes" e por isso pediu uma acomodação menor dentro do Vaticano.

Para dom Georg Gänswein, qualquer solução "teria sido ineficaz e criaria problemas de gestão e segurança".

"Também tentei abordar o assunto de um ponto de vista emocional, dizendo-lhe que para todos os que passavam em frente à basílica vaticana ao entardecer, a luz acesa no apartamento pontifício era um ponto de referência e que sem dúvida haveria saudade se a residência mudasse".

"Mas tive a impressão – continuou o secretário de Bento XVI – que os milhares de quilômetros de distância de Roma não o fizeram partícipe desta sensibilidade".

Segundo dom Gänswein, Bento XVI ficou surpreso com a postura do papa Francisco, mas "sua sábia conclusão foi que, se ele não queria, certamente não poderia ser forçado!".

O arcebispo alemão também lembra as explicações que o papa Francisco deu sobre sua decisão em 7 de junho de 2013 durante um encontro com os estudantes das escolas geridas pelos jesuítas na Itália e na Albânia: "Para mim é um problema de personalidade: isso é tudo. Eu preciso viver entre as pessoas, e se eu vivesse sozinho, talvez um pouco isolado, isso não me faria nenhum bem. Um professor me fez esta pergunta: "Por que você não vai morar lá? Respondi: Escute-me, professor: por razões psiquiátricas".

A seguir, dom Georg Gänswein lamenta que "especialmente nos primeiros tempos houve aqueles que quiseram opor Francisco e Bento também sob o aspecto da residência, dizendo que o novo pontífice não queria a magnificência do Palácio Apostólico, mas se contentava com um quarto de hotel".

Por isso, em suas memórias esclarece que "os espaços pessoais dos últimos papas -escritório, sala, quarto e banheiro- eram equivalentes aos de Francisco no apartamento de Santa Marta".

Ele conta que as comparações feitas entre os dois papas, e mais ainda se ocorriam dentro do Vaticano, "sempre entristeciam Ratzinger".


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