31/03/2022 10h45
Saúde de Dourados
Por Dr. Takeshi Matsubara
Eu realmente não sei o que nós, sociedade, precisamos fazer, para consertar, para arrumar, para minimamente, retomar o atendimento básico em saúde em nossa cidade.
Desde que fui secretário de saúde, nos idos de 2002 a 2003, os problemas são os mesmos, falta de recursos, do pouco que existe ser desperdiçado, ser perdido no ralo da ineficiência. Não por culpa dos servidores da saúde, que esses, são verdadeiros heróis, dão o seu sangue para tentar, minimamente, ajudar as pessoas que as buscam nos postos de saúde, nos hospitais, nos UPAS e nos centros de especialidades.
O que se percebe, é que ninguém foca a sua atenção nos reais problemas, nas verdadeiras causas que levam a nossa cidade, a segunda maior cidade do Estado de Mato Grosso do Sul, o polo que atende mais de 30 cidades da região e que vê, ano após ano, a qualidade e o nível dos serviços prestados descendo ladeira abaixo, tanto em termos qualitativos, como nos quantitativos.
Ao se olhar para os princípios do SUS, que prega uma saúde hierarquizada, onde a atenção básica seja o principal ponto de atendimento, onde esta possa resolver no mínimo 95% do problema dos pacientes, seja nos postos de saúde ou nas estratégias de saúde de família, percebemos que ali já inicia o problema, por falta de material, por falta de funcionários, por falta de um processo que envolve boa remuneração para que o profissional possa se dedicar totalmente à esses pacientes, falta de medicamentos, falta de materiais básicos como gazes, luvas, materiais esterilizados etc., a atenção primária não consegue cumprir o seu papel e envia pacientes para o UPA e o Hospital da Vida. Com isso, já se quebra o princípio fundamental do SUS.
Além disso, a estrutura do UPA e do Hospital da Vida está centrado num sistema gerencial que não se define se é OS, uma fundação publica que está há décadas mal gerida, quebrada, que desperdiçou recursos públicos ao longo dos anos, com folhas de funcionários inchados, com falta de transparência no uso do dinheiro público, de tal maneira que hoje, ela está totalmente quebrada, devendo salários para os médicos plantonistas, para os enfermeiros, técnicos e pessoal administrativo. Ninguém é obrigado a trabalhar sem receber, esse é o princípio básico do capitalismo. Ninguém sobrevive de brisa, de benção de Deus, as pessoas precisam fazer compras, pagar as suas contas, cumprir com os seus compromissos.
Com isso, os melhores quadros, tanto de médicos como de enfermeiros, acabam desistindo (e eu não tiro a razão deles) de trabalhar nessas condições precárias, e acaba acontecendo como tem ocorrido direto, de plantões onde faltam vários médicos, sobrecarregando aquele que continua carregando o piano!
O sistema de saúde é caro, é dispendioso, e da maneira como ele está sendo gerenciado, dificilmente teremos uma solução de curto prazo para tudo isso.
Precisamos, enquanto sociedade, parar de apenas jogar pedras e propor soluções para o secretário municipal de saúde. Precisamos, enquanto sociedade, participar do Conselho Municipal de Saúde, pois este é o fórum adequado para se discutir os problemas da saúde da nossa cidade.
Sabemos que, desde que o Hospital Evangélico deixou de atender o SUS e este atendimento foi transferido para o Hospital Universitário e Hospital da Vida, ambos não tem sido suficiente, tampouco tem servido para resolver os problemas da nossa cidade.
O Universitário, se tornou, para o sistema de saúde, apenas uma maternidade de portas abertas, que atende as urgências obstétricas da nossa região. Todos os outros pacientes, sejam eles clínicos, cirúrgicos pediátricos ou outros, precisam de um sistema de encaminhamento burocrático, que sempre está aquém das necessidades.
Tenho batido na tecla há anos, que o HU precisa sair da sua zona de conforto, de comodismo de escolher os seus pacientes, para se tornar um hospital de portas abertas, que interne de fato, os pacientes que realmente precisem dele. Precisa de um pronto socorro como porta de entrada, para que os serviços possam se desenvolver. Hoje, ele virou uma grande clínica para atendimento aos indígenas (nada contra essa população), que realiza cirurgias de baixíssima complexidade, como fimoses, vesícula e hérnia, e pacientes pediátricos. Além da maternidade.
O Hospital da Vida, era para ser um hospital provisório, há 15 anos, e até hoje, se tornou a principal fonte de atendimento para a população, com seu pronto socorro de urgências. Ele de fato, é muito pequeno, desajeitado, sem estrutura e sem a mínima condição para prestar o tamanho do serviço que ele presta, graças à garra dos médicos e funcionários que não recusam atendimento.
Precisamos pressionar o Estado para que inaugure, com urgência, o Hospital Regional na BR 463, estrada para Ponta Porã. A sua gestão não pode ser municipal, ela precisa necessariamente ser estadual, como o Hospital Rosa Pedrossian em Campo Grande também é gerido pelo Estado, pois o município não tem a mínima condição de recursos para gerir mais este hospital.
Os nossos políticos, os nossos deputados estaduais, os nossos vereadores e o prefeito, precisam tomar uma atitude, precisam assumir que estamos vivendo tempos negros no nosso sistema de saúde e buscar maneiras e recursos para resolver o problema.
Senão, a cada processo eleitoral, estamos cansados de ouvir discursos, prometendo que aqueles políticos irão lutar pela educação, pela saúde, pela segurança, etc….. Essa ladainha está se tornando irritante para nós.
Precisamos de atitudes efetivas para buscar solução para nossos problemas. Para isso, precisamos ocupar as tribunas adequadas e mostrarmos a nossa indignação e nossa insatisfação com tudo que nos está sendo oferecido atualmente, senão, corremos o risco de ano após ano, vermos a nossa saúde sucateada, entrando e saindo prefeito e nossa saúde sofrendo com essa condição precária e terrível!
Takeshi Matsubara, 59 anos de idade, médico homeopata e pediatra.
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