Voto cristão deve ser solidário e buscar bem comum, diz estudioso
O voto cristão deve ser sinônimo de solidariedade e busca do bem comum.
Da Canção Nova
O voto cristão deve ser sinônimo de solidariedade e busca do bem comum.
É isso que indica o secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP), o mestre em Ciência Política Daniel Seidel.
"O cristão deve se pautar no projeto de sociedade que cada candidato apresenta. Será que isso atenderá necessidade dos pequeninos? Ou privilegiará apenas determinado setor? É preciso se questionar para que o voto do cristão tenha essa qualidade da solidariedade, isto é, seja decidido com base nos anseios, necessidades e demandas dos mais fragilizados", ressalta.
.: OUÇA entrevista com Daniel Seidel
A CBJP é um dos cinco organismos vinculados à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) responsáveis pela redação da cartilha Eleições 2010: o chão e o horizonte. O texto foi lançado em maio deste ano para auxiliar os católicos no processo de escolha do seu candidato e já vendeu mais de 18 mil exemplares. Em 40 páginas, os organizadores propõem orientações práticas para motivar a participação dos católicos no processo eleitoral.
A cartilha destaca a importância de o eleitor valorizar as consequências do voto pessoal para a vida do povo e o futuro do país, elencando seis pontos que devem estar presentes quando o eleitor expressar sua cidadania através do voto:
1 – Não basta votar, é preciso fazer um acompanhamento do desempenho do candidato ou do político já eleito;
2 – A importância da Doutrina Social da Igreja, iluminando a opção dos fiéis;
3 – O diálogo com a sociedade como senha-crachá do candidato/político;
4 – Voto baseado no interesse social, não corporativo;
5 – Igreja não apresenta candidatos próprios, mas indica com força profética importância do voto e critérios que devem valer para nosso compromisso cristão;
6 – Uso do método ver, julgar e agir.
"Esses pilares traduzem os princípios básicos da Doutrina Social da Igreja (DSI) – a participação e presença do cristão na vida política deve ser construída em favor do bem comum", explica Seidel.
Compromisso
"O voto traduz um compromisso, já que é possibilidade de participação mais efetiva no mundo político. É a partir desse compromisso de cada pessoa, numa perspectiva de coletividade, que os cristãos crescem em sua consciência e identificam o seu papel na sociedade".
O secretário-executivo da CBJP recorda que não está no horizonte da Igreja a indicação de candidaturas, e sim o auxílio no processo de desenvolvimento dessa consciência acerca da responsabilidade com o voto.
"Nossa fé motiva sensibilidade com o que acontece, mas a não ficar apenas nos sintomas. É preciso ir até as raízes dos grandes problemas, iluminar essas situações com a luz do Evangelho, Magistério da Igreja, para termos compromisso permanente", indica.
Esse compromisso dos cristãos, de modo particular e organizado, não termina no dia da eleição: é necessário um processo de acompanhamento dos candidatos eleitos, cobrando efetivamente os compromissos feitos com a população durante a candidatura, segundo Seidel.
10 Mandamentos
A CBJP também desenvolve a iniciativa paralela do folheto 10 Mandamentos para o voto consciente, em parceria com a Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil.
O foco principal de distribuição do material é através da internet. A partir daí, pode ser replicado através das redes sociais e outras plataformas, ou impresso e distribuído nas paróquias.
"É outro auxílio para que os fiéis possam conhecer a missão de cada cargo envolvido no pleito e possam cobrar os compromissos que os candidatos fizeram durante a campanha", finaliza o membro da CBJP.
Conheça os Dez mandamentos para o voto consciente
1º) Procure conhecer o passado, as idéias e os valores do candidato. Se ele já se envolveu em escândalos de corrupção, comprou votos, foi cassado pela Justiça, renunciou a mandatos para escapar de punições ou se aliou a grupos envolvidos com essas práticas: simplesmente não vote neles.
2º) Não basta que os candidatos ou candidatas tenham “ficha limpa”. É preciso conhecer as intenções e propósitos de cada candidato: quem financia a sua campanha? Quem ele realmente vai representar? Procure se informar. Exija dele uma vida honrada, do mesmo jeito que você procura conduzir a sua vida.
3º) Conheça mais sobre a lei eleitoral. Participe de palestras, reuniões e debates. Sua vida em comunidade exige, esteja mais informado sobre assuntos tão importantes.
4º) Ajude a fortalecer o Comitê da lei 9840 para o combate à corrupção eleitoral e aplicação do Ficha Limpa.
5º) Denuncie a compra de votos. Quando uma pessoa aceita um benefício em troca do seu voto se condena a viver sem emprego, educação, segurança pública. Assim, o remédio hoje recebido em troca do voto poderá mais tarde custar a falta do hospital que salvaria a sua vida ou a do seu filho.
6º) Denuncie o desvio de recursos públicos para fins eleitorais. É muito grave que um candidato se utilize de bens e serviços públicos para ganhar as eleições.
7º) Tire fotos, grave ou filme se notar algum sinal de compra de voto ou de apoio eleitoral, utilizando o mau uso do dinheiro público, pois ajuda a comprovar a irregularidade na denúncia ao juiz eleitoral, ao ministério Público ou até mesmo à Polícia.
8º) Não vote em pessoas que mudam de Partido como “quem muda de roupa”. Ao votar no candidato, ao estamos votando só na pessoa, mas no partido, ajudando a eleger outros candidatos do mesmo partido ou coligação, por isso saiba quem são os outros candidatos da legenda.
9º) Procure saber se o candidato ou candidata tem compromisso com a defesa da vida em todas as suas fases, bem como com a realização da reforma política, reforma agrária e com Direitos Sociais fundamentais:como criação de emprego e geração de renda, melhoria de saúde e educação, defesa do meio ambiente e da cultura de paz. Cobre esse compromisso.
10º) Pense bem antes de votar, escolhemos pessoas que se preparam para administrar (presidente, governador) ou fazer leis (deputado federal, estadual e senador) em benefício de toda a sociedade, nunca em proveito pessoal. Não deixe para a última hora a escolha dos candidatos a deputado e senador. Depois da eleição, acompanhe o trabalho dos eleitos